“Sortilégio”: obra de Abdias do Nascimento ganha nova edição

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Escrita em 1959, a peça Sortilégio, de Abdias do Nascimento, ganha nova edição que será lançada nacionalmente na próxima quarta-feira (13), às 19h, no Terreiro Contemporâneo, no Rio de Janeiro. No evento, serão exibidos vídeos produzidos com base no acervo do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO).

Abdias do Nascimento é uma das maiores referências negras no país – Foto: Divulgação/Ipeafro

A programação conta também com leituras performáticas, sessão de autógrafos e a participação de referências do teatro negro, tais como: Wilson Rabelo, Heloísa Jorge, Reinaldo Júnior, Ana Paula Black, Cridemar Aquino, Mônica Nêga. A direção é de Ângelo Flávio, ator e diretor teatral baiano. Além disso, também será realizada uma noite de autógrafos com a autora do livro Abdias Nascimento, a Luta na Política, Elisa Larkin Nascimento, companheira de Abdias Nascimento, autora e diretora-fundadora do IPEAFRO. A publicação aborda o ativismo político de Abdias Nascimento principalmente a partir dos anos 1980.

“Qual é o sortilégio que lança o moderno para o contemporâneo, senão a magia que emana do emergir de culturas há séculos suprimidas ao jugo do colonialismo? Ao tomar a palavra na sua própria língua, por assim dizer, e lançá-la na arena do discurso público, os criadores dessas culturas desafiam o jogo do poder, mudam padrões, desmontam narrativas e hierarquias estabelecidas. Abdias Nascimento foi precursor e continuador desse processo. Ao fundar o Teatro Experimental do Negro (TEN) em 1944, ele atuava ao lado de companhias de vanguarda como Os Comediantes. O TEN participou ativamente do parto do teatro moderno no Brasil. Mas seu forte impacto na cena cultural da época ficou, ao mesmo tempo, fartamente documentado e mantido oculto”, afirma Elisa no prefácio da obra.

Primeira encenação

A atriz Léa Garcia participou da primeira montagem da peça, em 1959, e relembra como foi significativo para ela, recém saída da adolescência, acompanhar o processo de produção da peça. “Eu tinha dezoito ou dezenove anos quando esse texto foi elaborado por Abdias. Para mim, era uma novidade ver a feitura de um texto teatral na minha frente. E feita com aquela sofreguidão, aquela intensidade que Abdias tinha no seu temperamento, no seu modo de ser. Ele batia com força naquela máquina de escrever, absorvido completamente, numa força de intenção muito grande. Era uma sofreguidão, ‘tac, tac, tac’. E motivado pela perda de Aguinaldo Camargo, que sofreu discriminações também. Abdias registrou isso numa cena de Emanuel que é quase o retrato de um fato que aconteceu com Aguinaldo Camargo: a fala do delegado, ‘Tira esse doutor de merda daqui!’ Isso aconteceu com Aguinaldo. Além de ator e organizador de atividades do Teatro Experimental do Negro, Aguinaldo era advogado e delegado de polícia”, declarou a atriz Léa Garcia em entrevista que compõe o livro de Elisa Larkin Nascimento.

As obras

Os dois livros, edições da Perspectiva, em parceria com o Ipeafro, abordam as dinâmicas entre arte e política na vida e obra de Abdias Nascimento. Para ele, a arte foi um meio para enfrentar a urgente questão política das condições de vida das populações negras no Brasil e no mundo. Seu maior objetivo era combater o genocídio do negro brasileiro, que persiste até hoje: no Brasil, um jovem negro é morto violentamente a cada 23 minutos. Escreveu Abdias Nascimento em sua obra O Quilombismo. “Nosso Teatro seria um laboratório de experimentação cultural e artística, cujo trabalho, ação e produção explícita e claramente enfrentavam a supremacia cultural elitista-arianizante das classes dominantes”, afirmou.

Leia também: Pinturas de Abdias do Nascimento mostra experiência negra na América Latina em exposição no MASP 

Abdias do Nascimento foi ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras. Nasceu em Franca (SP) e faleceu no Rio de Janeiro, em maio de 2011. Ele fundou o Teatro Experimental do Negro e o projeto Museu de Arte Negra.

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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