1ª Semanalab 2024 divulga lista de filmes selecionados

DSC00582.jpg

Com o objetivo de fortalecer e contribuir para a formação de produtores e realizadores negros da capital mineira e Região Metropolitana, foram selecionados sete projetos cinematográficos para integrar o processo de formação audiovisual da 1ª Semanalab 2024, braço formativo da Semana de Cinema Negro.

São eles, os curtas-metragens Partida de Tênis, da diretora Meibe Rodrigues; BR 00 com direção de Esdras Chiarelli e Dance ou Dance, de Filipe Bretas Lucas. Além dos longas Betta, da diretora Gabriela Matos; Transmachine, de Guilherme Jardim; e Orquestra Vazia, de Maria Leite, com produção de Marcella Jacques; e a série episódica PreTV, de Marcos Mateus.

Foto: Virginia Dandara

Conheça as propostas:

Partida de Tênis – Duas das principais mudanças provocadas pelo laboratório de desenvolvimento foram o nome do filme e sua classificação. De Bactéria para Partida de Tênis, de curta para média-metragem. Partida de Tênis, gênero dramático, retrata a inocência de Victor, um garoto de periferia de BH que tem o desejo de envelhecer jogando tênis.

No filme, Victor, com um sorriso largo, tímido e constante, sobe e desce as ruelas da periferia do bairro Jardim América, em Belo Horizonte, para treinar e jogar tênis em um bairro de luxo da cidade. O filme retrata o cotidiano de alguém que nasceu e foi criado em um ambiente onde quase tudo contribui ou leva para um final trágico para a juventude negra. A dor que levou outros garotos, não vai levar o sorriso de Victor. O filme tem direção de Meibe Rodrigues, e produção de Matheus Moura. 

Dance ou Dance – Outro projeto selecionado é o curta Dance ou Dance, com direção de Filipe Bretas Lucas e produção de Misael Avelino da Silva, que tem o gênero de drama. O enredo mostra Gabriel, um jovem negro LGBT, e Jorge, um jovem negro ligado às tradições do candomblé. Assombrados pelo histórico de alcoolismo entre os homens de suas famílias, ambos foram criados com punho forte em um ambiente fundamentalista religioso.

Em um projeto social de dança, os dois se conhecem e descobrem mais sobre seus conflitos familiares causados por terem se “desgarrado” da igreja. Entre aulas de dança e almoços de família, Gabriel e Jorge desenvolvem uma amizade que os mostra novas formas de se relacionarem com o mundo e com o masculino.

BR 00 – BR 00 é um curta que tem como gêneros o drama e fantasia. O filme conta a história de um jovem medroso, que depois de ganhar uma passagem para um destino misterioso, está dividido entre mudar de vida ou continuar na sua cidade pacata, ele não sabe se usa seu direito de ir embora para uma nova realidade desconhecida ou se permanece no lugar onde vive. Enquanto não se decide ele vaga pela BR 00 onde encontra passageiros seguindo seus destinos. O diretor dessa obra é Esdras Chiarelli e produção Dominic Augusto

De acordo com Ana do Carmo e Jacson Dias, da comissão de seleção, cada uma dos curtas selecionados possui diferenciais marcantes. “Em Partida de Tênis, a doçura do olhar infantil em choque com uma narrativa social forte pode ser um contraste interessante. Dance ou Dance, o título incrível diz muito sobre a narrativa de um projeto muito sólido e interessante. Já BR 00 possui uma temática universal, utilizando o gênero da fantasia como ferramenta discursiva”, explicam.

Longas-metragens – Foram selecionadas os médias-metragens PreTV e Betta, que durante a semana de laboratório se transformaram, respectivamente, em série episódica e longa-metragem. “O PreTV possui uma temática inovadora, onde a metalinguagem do audiovisual será parte integrante da comédia. Já o título do Betta é muito bem consolidado dentro do universo temático de masculinidades, além de trazer um aspecto de roadmovie periférico super interessante”, explica Jacson.

PreTV – PreTv é uma série episódica de ficção e comédia. A série retrata de forma satírica e cômica os bastidores de uma emissora de TV fictícia, (PreTV) que tem sua equipe formada majoritariamente por pessoas não brancas. Um diretor de programação de caráter duvidoso, uma veterana apresentadora de talk show extravagante, uma apresentadora de programa infantil ambiciosa, são alguns dos personagens que transitam por esse ambiente.

O cotidiano dessa emissora é permeado por situações que beiram o surrealismo nas relações e atitudes de alguns personagens que circulam por esse universo. O diretor é Marcos Mateus e a produção é de Rodrigo Corrêa.

Fotos: Virginia Dandara

Betta – Betta é um filme longa-metragem de ficção e drama, que conta a história de quatro amigos em situações muito diferentes de vida, tem uma relação de amizade que nasceu pela convivência dentro da comunidade. Pedro, o mais velho, é aquarista e acabou de conseguir alugar um carro para trabalhar como uber para pagar a pensão do filho. Jonathan rejeita a personalidade de um amigo de fora da favela que começa a fazer conteúdos de redpill.

Miguel tem o sonho de viver do rap e Rafa, o mais novo entre eles, pensa seriamente em desistir do Ensino Médio. Um dia, durante um jogo de futebol, Miguel e Rafa tem um desentendimento que começa a abalar a amizade. Com o passar do tempo, pequenos desentendimentos vão acontecendo e a briga começa a tomar maiores proporções. Com medo das coisas saírem do controle, Pedro e Jonathan tem a ideia de todos fazerem uma viagem de bate e volta para Cabo Frio. Juntos eles descobrem que às vezes, o que a gente precisa, é de um aquário maior. A direção de Betta é de Gabriela Matos e a produção é de Caroline Oliveira.

Foram selecionados ainda os projetos de dois longas-metragens. Transmachine é um projeto incrível. Tem temática e narrativas sólidas, além de contar com uma protagonista forte, rica, e cheia de nuances. Sem falar do Orquestra Vazia, que tem um projeto fantástico, narrativa muito madura e sinopse instigante”, ressalta a equipe de seleção.

Transmachine – Longa-metragem de ficção e drama, que conta a história de Lua. Ela enfrenta desafios na construção de sua carreira musical. Em meio às dificuldades para construir a carreira musical, Lua cria o alter ego Transmachine, uma versão feroz e destemida que incorpora quando sobe aos palcos. Seu maior desafio é driblar as inseguranças e superar os preconceitos para realizar o sonho de se tornar a primeira mulher trans a ser coroada campeã nacional do Duelo de MCs. Quem dirige Transmachine é Guilherme Jardim e Tépha Nascimento é responsável pela produção 

Orquestra Vazia – Orquestra Vazia é um projeto de longa-metragem em animação stop-motion que narra a história de Jana, a jovem dona do hotel Orquestra. Sua rotina se transforma a partir de estranhos ruídos que surgem no hotel, que ela não consegue identificar de onde vêm. Rita, uma hóspede, parece ser a única pessoa que também escuta os barulhos e será uma parceira importante na investigação desse mistério.

O filme é um drama psicológico escondido em camadas de mistério, que começa dando pistas falsas ao espectador, como uma história detetivesca, até que a aparente normalidade se desmorona em memórias dolorosas de um abuso sexual sofrido pela protagonista. Apenas no final do filme o espectador se dá conta que na verdade o Hotel é uma alegoria do mundo interior de Jana, e que todas as outras personagens fazem parte de sua personalidade/mente, lidando com esse processo emocional. A diretora da Orquestra Vazia é Maria Leite e a produção de Marcella Jacques.

Maria Leite conta como foi sua participação nos laboratórios e como foi receber a notícia de que o filme foi selecionado: “Primeiro, quando a gente recebeu a seleção foi muito interessante, porque a gente recebeu dois retornos: da produção e da curadoria da seleção. Elogiaram muito, falaram que estava com capacidade e técnica bem clara de realização, roteiro estava legal e tal. Outra que foi muito legal ler isso e o outro retorno foi o Lab perguntando o Lab poderia ajudar um projeto tão completo”, Apesar disso, Maria conta que não sintia que estava completo e que para ela, o laboratório foi um processo de fortalecimento de confiança entre pessoas negras.

“Foi muito importante colocar pra fora, dividir o projeto com um grupo de realizadores negros. Eu achei incrível a organização toda desse processo”, finaliza.

Os laboratórios de desenvolvimento dos projetos passaram por assessoria individual e coletiva da professora e curadora Tatiana Carvalho Costa e com o diretor Higor Gomes. Para Tatiana a troca foi bastante rica.

“Fiquei muito feliz com esse conjunto de projetos, porque tem uma heterogeneidade de propostas e de níveis de maturidade diferentes. Agora, durante o desenvolvimento, a troca foi bastante rica nesse sentido de um aprendizado coletivo – não só no sentido do contato com as mentorias individualmente, mas sobretudo, porque esse conjunto heterogêneo aponta para desejos muito fortes de cinema”, afirma

Higor complementa que sente a ousadia das propostas: “tem uma ousadia dentro das próprias narrativas. Existe uma premissa e um desejo muito forte e latente de trabalhar com pessoas de grupos minoritários dentro das histórias. Em alguns casos, os projetos chegaram bem iniciais, ainda desestruturados, apenas com uma uma vaga ideia dos personagens, com isso nosso papel nos laboratórios de desenvolvimento foi trabalhar essas estruturas. – em alguns de maneira mais pragmática e para outros de maneira mais conceitual”

Apesar de estar há 10 anos no audiovisual, Gabriela Matos nunca participou de um laboratório. Para ela, Betta, que chegou como média-metragem, sair com um longa a fez entender a potência do que está sendo falado no filme.

Leia mais: Sesc abre inscrições para curso preparatório para mestrado e doutorado a pessoas negras e periféricas

“A gente entendeu que tem um caminho maior para seguir, então a gente dá conta desse longa. Pensando nisso, as masterclasses durante essa semana foram muito importantes. Ajudaram a entender a experiência de outras pessoas, principalmente pessoas negras dentro dessa trajetória do cinema. Por exemplo, a masterclass de direção da Everlane me marcou muito. O processo criativo dela é muito massa”.

Gabriela conta ainda que o processo foi transformador, não só para pensar neste projeto, mas como também sua trajetória no cinema enquanto pessoa negra e periférica. “Consegui ver a forma de trabalho de outras pessoas, eu acho que foi muito interessante. A gente tem que pensar que o cinema é muito branco ainda é muito branco e muito masculino. Então, é muito importante para a gente conseguir trazer essas narrativas. Principalmente para o cinema comercial também, para trazer novas potências mesmo pro holofote de alguma forma”, finaliza.

Na finalização da SemanaLab, cada projeto ainda recebeu como incentivo assessorias para que o processo de desenvolvimento das propostas tenha continuidade. As assessorias terão duração de duas horas e foram escolhidas de acordo com com a avaliação interna. As assessorias serão realizadas com importantes figuras do audiovisual.

A roteirista, diretora e produtora Mariana Thomé prestará assessoria de direção de documentário para o filme Partida de Tênis, já o filme Betta, terá assessoria de produção com a produtora executiva Yolanda Maria. BR 00 contará com assessoria de roteiro com o ator e roteirista Luiz Bertazzo. Dance ou Dance, assessoria de montagem com Bárbara Defanti do projeto Em Curta – Sobretudo.

Zé Agripino, produtor e criador audiovisual, prestará assessoria de pesquisa ao projeto PreTV, enquanto Transmachine, dialoga sobre direção e roteiro com a diretora e roteirista Juliana Rojas. Além disso, Orquestra Vazia terá a diretora e roteirista Carol Rodrigues, em assessoria de roteiro.

A 1ª SemanaLab é produzida pela Carapiá Filmes e Quiabo Produções com patrocínio do Banco BS2 com apoio do Instituto Cervantes Belo Horizonte, e foi aprovado na Lei de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, projeto 1384/2022.

Deixe uma resposta

scroll to top