“Rompe com a ideia de que só mulheres cis podem ocupar esse lugar”, diz atriz Isis Broken sobre a maternidade sendo uma mulher trans

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No Brasil, onde a maternidade ainda é tratada como um espaço exclusivo das mulheres cisgênero, a atriz e cantora Isis Broken subverte narrativas, desafia normas e afirma sua existência como mãe trans progenitora do pequeno Apolo. Em entrevista ao Notícia Preta nesse Dia das Mães, ela que é uma mulher afroindígena, nordestina e artista, compartilha as camadas profundas, políticas e afetivas de sua vivência como mãe.

Crescida no menor estado do país, Sergipe, ela carrega também o peso da distância geográfica dos grandes centros, o que torna sua maternidade ainda mais emblemática: “Ser mãe do meu filho Apolo, é algo grandioso, porque rompe com a ideia de que só mulheres cis podem ocupar esse lugar. A gente está escrevendo novas histórias”, afirma a artista, que continua:

Desde pequena eu já sabia o que queria. Quando brincava de casinha ou de boneca com minhas primas, era ali que eu expressava um desejo genuíno, que sempre me foi negado por ser lida como menino. Meu pai, os homens ao redor, tentavam me impedir. Mas minhas tias e minha mãe foram resistência e amor”, lembra Isis.

Isis Broken e Apolo, seu filho /Foto: Arquivo Pessoal

Apagamentos e violência institucional

O Brasil não possui dados oficiais sobre a quantidade de mães trans no país. Essa ausência estatística já é, por si só, uma forma de invisibilização. Isis Broken narra o quanto o apagamento se manifesta em diversas esferas: “Por eu não ter gestado, questionam minha legitimidade como mãe. Mas ele é meu filho biológico. O preconceito se intensifica quando a mãe trans é preta e nordestina. O tratamento é diferente quando se trata de uma mãe branca, principalmente se ela vive no eixo Rio-São Paulo”.

Isis também revela os obstáculos enfrentados ao desejar amamentar: “Ouvi absurdos, mas estudos já mostram que mulheres trans podem sim produzir leite com valor nutricional comparável ao de mulheres cis. O preconceito é fruto da desinformação e da transfobia estruturada.” 

Para ela, criar espaços de afeto e visibilidade ainda é um desafio, mas as redes sociais vêm sendo terreno fértil para a formação de laços, trocas e acolhimento: “É na internet que estamos construindo nosso senso de comunidade. E é nesse lugar que vamos atuar.”

Entre a arte e a maternidade

A experiência da maternidade também impactou diretamente sua trajetória artística. Durante os dois primeiros anos de vida de seu filho Apolo, Isis precisou desacelerar a carreira para se dedicar à família. Ainda assim, encontrou formas de unir arte e afeto.

Com a diretora Thayna Miller, criou um documentário que acompanha a gestação e a vivência da maternidade trans. “Foi uma forma de viver minha arte sem abrir mão da minha presença como mãe. Foi potente. E o documentário, que estreia no fim do ano, está incrível”.

A coragem de maternar sendo trans

Diante de uma sociedade que ainda insiste em negar a possibilidade de mulheres trans serem mães, Ísis deixa uma mensagem direta e afetuosa para quem sonha em viver a maternidade.

“Se você tem esse desejo, viva. Mas saiba: não é fácil. Não romantize. É preciso preparo emocional, rede de apoio e maturidade. Seu filho vai precisar de você inteira. Não use a maternidade como fuga para dores que não foram curadas. Mas se for o seu momento, se estiver pronta — seja livre, ame profundamente, viva sua maternidade como ela for. Com verdade”.

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