Na semana em que a execução da vereadora Marielle Franco completa um ano a revista Raça lança a edição especial em homenagem à parlamentar e traz na capa sua família negra. Pai, mãe, irmã e filha de Marielle ilustram a revista que foi lançada nesta terça-feira (12), na Casa das Pretas, no Rio de Janeiro, local onde Marielle realizou seu último evento minutos antes de seu assassinato.
A escolha da capa gerou polêmica. Nela estão Anielle Franco, irmã de Marielle, Luyara Franco, filha, e os pais Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva, em uma cadeira vazia representando a vereadora. O diretor da revista, Maurício Pestana, diz ter sofrido ataques por optar em não colocar a viúva de Marielle, Mônica Benício, na matéria: “ O que presenciamos esse tempo todo foi a total invisibilidade dessa família negra pela grande mídia no Brasil. Sempre quando se fala em Marielle se fala da companheira dela , o que é importante, mas essa família negra estava sendo invisibilizada. Eles têm sua história, sua dor e muitas vezes, em quase todas suas homenagens, a voz que se dava não era à esta família”, explica pestana.
Para a mãe de Marielle a revista dá uma oportunidade do público realmente conhecer a família da vereadora: “Ninguém imagina os ataques que temos sofrido. Digo para minha família que seremos atacados sim, mas a gente vai tirar de letra, vamos resistir porque preto é isso. Nós também fomos questionados pela capa da revista ter apenas a família negra de Marielle. Com todo respeito que eu tenho às mulheres brancas, acho que nessa capa não caberia ter uma mulher branca, por direito sim, mas sairia do contexto. Não queremos tirar direitos de ninguém, mas queremos ter o reconhecimento da família negra da Marielle”, explica dona Marinete.
No mesmo dia do lançamento da revista, a família de Marielle e o mundo foram acordados com a notícia da prisão dos assassinos da vereadora. Uma operação conjunta do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Polícia Civil prendeu o sargento da Polícia Militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, acusados de assassinar a vereadora e o seu motorista, Anderson Gomes. O crime aconteceu em 14 de março de 2018.
Segundo o MP, Lessa é o autor dos disparos de arma de fogo que mataram Marielle e Anderson e Elcio é o motorista do carro usado no crime. Os dois foram denunciados por homicídio qualificado e por tentativa de homicídio de uma assessora da vereadora que estava dentro do carro. Os advogados de Ronnie Lessa e Elcio Vieira de Queiroz negaram o envolvimento de seus clientes no caso.
O que a família de Marielle quer saber hoje é quem mandou matar a vereadora e seu motorista: “Acompanhamos o trabalho sério do MP. Sabemos que ainda falta muito, não temos nada a comemorar, foi um avanço mas precisamos continuar cobrando esclarecimentos da justiça”, diz Anielle Franco.