“O racismo mata, impede que haja justiça”, diz mãe de Kathlen Romeu em carta aberta

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Jackeline Oliveira, mãe da jovem Kathlen Romeu, que estava grávida quando morreu com um tiro no peito no Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio de Janeiro, fez um discurso forte e emocionado após a primeira audiência que julga os PMs acusados pelo crime, ter sido realizada nesta segunda-feira (29). Na carta aberta para filha, ela cita o quão letal o racismo foi para sua família.

“O racismo mata, impede que haja justiça e mancha a memória dos inocentes de favelas no Rio de Janeiro. Basta ser negro ou negra, trabalhador e favelado que sua vida vale menos”, disse Jackeline, que deu seu depoimento sobre a morte da filha e do neto – que vai completar dois anos em julho – nesta segunda-feira, junto da avó da jovem, Sayonara, que estava com ela no momento que foi baleada.

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Visivelmente abalada, Jackeline disse em depoimento que faz terapia e toma remédios para suportar a dor de perder a única filha, e no discurso também destacou seu pedido por justiça. “Precisamos unir esforços para evitar a perda de vidas inocentes e proteger moradores de comunidades. Primeiro passo deve ser a imposição da Justiça diante da violência do Estado, que mata, mas não garante direitos e muito menos paz. Kathlen, sua memória é a prova de balas”, declarou a mãe.

Além delas, outras três testemunhas de acusação foram ouvidas, das nove que foram chamadas. Em declaração na audiência, a avó de Kathlen disse que não havia confronto no momento do tiro que matou sua neta, e ainda relatou que os policiais não só não prestaram socorro, como apontaram uma arma para ela.

“Quando eu vi ela machucada, eu já levantei pedindo socorro. Quando eu olhei para frente só tinha a polícia. Quando eu olhei pra um deles, apontaram a arma pra mim. Eu só tô pedindo ajuda. (…) Um deles veio até mim. Eu pensei que ele ia socorrer a minha neta, né? Ele passou por ela no chão, nem olhou”, relembrou Sayonara.

Antes da sessão na 2ª Vara Criminal da Capital, o pai da jovem, Luciano Gonçalves, também se pronunciou. “É angustiante. É uma sensação de dor. Uma sensação de perda infinita. Não existe justiça a ser feita porque a minha filha não vai voltar. O que a gente tá aqui é esperando um mínimo de reparação do estado. Que os assassinos da minha filha paguem, no máximo rigor da lei”, disse o pai da vítima.

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Após o fim da audiência, familiares e amigos de Kathlen Romeu, e de outras vítimas da violência no Rio de Janeiro, fizeram um ato em memória dos falecidos, e pedindo justiça.

Julgamento e acusados

A audiência desta segunda-feira (29), que faz parte da primeira etapa que ainda vai durar por mais alguns meses, vai ouvir além das testemunhas, os acusados Marcos Felipe da Silva Salviano e Rodrigo Correia de Frias, que estão sendo julgados por homicídio.

Os dois PMs, e outros dois agentes – Cláudio da Silva Scanfela e Rafael Chaves de Oliveira – também são réus por duas fraudes processuais e por dois crimes de falso testemunho.

Leia também: Após 1 ano e 3 meses do crime, família de Kathlen Romeu ainda pede justiça

Já o capitão Jeanderson Corrêa Sodré virou réu por fraude processual na forma omissiva, e junto dos demais, foi ouvido na terça-feira da última semana. Essa etapa da audiência vai definir se eles serão levados a júri popular.

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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