“Racismo cotidiano adoece e pode levar à depressão”, alerta psicólogo

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O impacto do racismo cotidiano sobre a saúde mental da população negra no Brasil tem sido cada vez mais evidenciado por estudos e por especialistas da área. Dados do Ministério da Saúde mostram um cenário alarmante: o índice de suicídio entre adolescentes e jovens negros é 45% maior do que entre brancos. Enquanto o risco cresceu 12% na população negra nos últimos anos, ele permaneceu estável entre jovens brancos.

A desigualdade racial marca profundamente o adoecimento emocional. Estudos recentes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do IBGE apontam que pessoas negras apresentam maior incidência de sintomas de depressão, ansiedade e estresse crônico, reflexo direto da discriminação estrutural e da desigualdade de acesso a direitos básicos. A Fiocruz estima que pessoas negras têm 40% mais chances de desenvolver transtornos mentais comuns.

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O acesso ao cuidado também é marcado pela desigualdade. De acordo com o IBGE, a população negra é justamente a que mais encontra barreiras para receber atendimento psicológico no SUS, mesmo sendo a mais afetada pelo sofrimento emocional.

Para o psicólogo Danilo Suassuna, doutor em Psicologia, o racismo é uma forma de violência contínua que afeta o corpo, a identidade e as relações. “O sofrimento causado pela exclusão e pelo preconceito reforça a sensação de não pertencimento, mina a autoestima e pode desencadear ansiedade, depressão e isolamento social”, afirma. Ele defende políticas públicas que garantam acolhimento, representatividade e formação especializada nos serviços de saúde.

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Entre as mulheres negras, a sobrecarga é ainda maior. Além do racismo, elas enfrentam desigualdade econômica e violência de gênero. Uma pesquisa do Laboratório Think Olga aponta que 54% das mulheres negras estão insatisfeitas com sua situação financeira, contra 39% das mulheres brancas. Segundo o Dieese, 62% das mães-solo do país são mulheres negras, e 63% delas vivem na extrema pobreza. Esse contexto alimenta insegurança emocional, sobrecarga mental e adoecimento.

A violência estrutural também impacta gerações: crianças negras têm 39% mais chances de morrer antes dos 5 anos por causas evitáveis e 3,6 vezes mais chances de serem vítimas letais por arma de fogo, o que aprofunda o sofrimento emocional de suas famílias.

Suassuna destaca que a psicologia comunitária é parte da resposta. “O cuidado precisa chegar aos territórios vulnerabilizados. Escutar histórias, compreender realidades e atuar junto às comunidades torna o cuidado um ato político e transformador”, conclui.

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