Relatório mostra que violência contra jovens negros é cinco vezes maior que contra os brancos
Uma pesquisa realizada pela Rede de Observatórios de Segurança mostra que a taxa de homicídios de jovens negros na Bahia é quase cinco vezes maior que a de jovens brancos, baseado no relatório A Cor da Violência na Bahia: uma Análise dos Homicídios e Violência Sexual na Última Década, lançado na última quinta-feira (5).
Segundo Silvia Ramos, coordenadora da plataforma, a única explicação para essa diferença, é o racismo. “Quando se fala em genocídio da população jovem negra não é um exagero. O motivo é o racismo. Esse é o retrato mais desavergonhado do racismo brasileiro. Nós estamos falando de mortes. Nada justifica esse quadro, senão uma política racista”, afirmou a ativista, em entrevista à Rádio Brasil Atual
Dados
Ao todo, o relatório levou em consideração 10 anos de dados do Sistema Único de Saúde (SUS), que foram analisados e apresentada uma evolução nas mortes violentas no estado. “O estudo não conta com dados da segurança pública, porque o governo da Bahia (atualmente de Rui Costa (PT)) é um dos poucos do país que não apresenta os dados da área desse setor. Ou seja, quantos homicídios, quantos roubos, quantas mortes, mas também quem foram essas pessoas, idade, raça, gênero etc.”, explicou Silvia.
A pesquisa mostra que a taxa de homicídios na Bahia e quase o dobro da taxa nacional. Enquanto no Brasil a taxa de homicídios é de 27 para cada 100 mil habitantes, na Bahia, ela sobe para 41 a cada 100 mil habitantes. Porém, em alguns municípios do estado, essas taxas podem chegar a 80 por 100 mil. “Mas o mais surpreendente é que a taxa de homicídio de jovens entre 18 e 29 anos, do sexo masculino, negros, deu 236 homicídios por 100 mil habitantes. A de homens da mesma idade, brancos, é de 50 por 100 mil”, explicou a pesquisadora.
“Ontem mesmo teve uma cena, aqui em Salvador, de policiais espancando jovens negros com palmatória. Um grupo já preso, encurralado, que precisava estender as mãos para serem espancados pela polícia. Isso se chama racismo. Não se faria isso em nenhum outro lugar, mas fazem com jovens negros dentro da favela. É um ato imoral e ilegal”, completou Silvia.
Mulheres negras
Outro dado do estudo é em relação aos abusos contra mulheres negras. A pesquisa revela que, dos 1194 casos de estupro e violência sexual em geral, registrados em 2017, 872 vítimas foram mulheres negras e 153 eram brancas, demonstrando que as mulheres negras são as vítimas mais frequentes dos crimes. “O que os números mostram é que a violência que atinge essa parcela da população é altamente enviesada do ponto de vista racial” finalizou.