“Chegou o fim de semana, todos querem diversão. Só alegria, nós estamos no verão, mês de janeiro, São Paulo Zona Sul”. Esse trecho é da música Fim de Semana no Parque. O ano era 1992, o grupo Racionais Mc’s lançavam o lendário disco Raio X do Brasil, com músicas de peso, como Homem na Estrada e Racistas Otários. A periferia se via como uma outra parte da música que diz, “olha quanto boy, olha quanta mina (…). Olha só aquele clube que da hora, olha o pretinho vendo tudo do lado de fora”. O rap nacional, apesar de já ter alguns anos de estrada, ganhava um novo impulso. Não dá para negar que a tecnologia auxiliou, e muito, a difusão do rap, mas de lá para cá, vários nomes de peso surgiram, elevando ainda mais o segmento.
Nessa pegada histórica do rap nacional, dois estudantes de publicidade e propaganda do Paraná decidiram fazer, como trabalho de conclusão de curso, uma história em quadrinhos que mostra a trajetória do ritmo no país. No entanto, os Mc’s são retratados como guerreiros orientais, que é o caso de Emicida e Mano Brown.
Segundo o ilustrador Douglas Lopes, a ideia da história em quadrinhos (HQ) é contar como o rap se formou a parte do mainstream e conseguiu ficar famoso, ainda produzido pelo povo preto de periferia, com ideias críticas e conscientizadores. Já o publicitário e roteirista Max Koubik o intuito é contar a história do rap nacional com a perspectiva de como o ritmo não perdeu sua essência, mesmo ficando cada vez mais popular. Ou seja, que ele não se diluiu ou se vendeu dentro de uma lógica industrial, mas sim se fortaleceu e construiu seu próprio espaço para poder sobreviver e crescer (selos, gravadoras e marcas especializadas em hip hop). “Então, a ideia não é ser uma coletânea de biografias de rappers, mas mostrar que o rap é um ritmo que constantemente se lembra. Se lembra de onde veio e se lembra pra quem faz, o que faz”, afirmou.
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Trabalho de Conclusão de Curso
A ideia da HQ surgiu com a necessidade da elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso de publicidade e propaganda e a vontade era que o TCC tivesse um valor maior do que ser simplesmente acadêmico. “A gente sabia que queria fazer sobre rap, mas não sabíamos bem o quê, até que começamos a pesquisar mais sobre a cena do rap no Brasil e descobrimos que não tinha nenhum trabalho ainda que tentasse agrupar, em um lugar só, a história do rap nacional. Depois disso foi algo meio natural porque o Douglas é um ilustrador super talentoso e eu sou apaixonado por quadrinhos e por rap. Mesmo assim, nós só sabemos mesmo que acertamos em cheio no tema quando lançamos a ilustra de “abertura”. Nós sabíamos que faltava uma obra como essa, mas nunca imaginamos que teria uma recepção tão legal da galera”, comemorou Max.
Comunidade negra influenciada
Depois de vários anos na “clandestinidade”, sendo marginalizado pelas mídias tradicionais, o rap ganhou espaço a duras penas e, atualmente, representa muito mais que um ritmo. Segundo Douglas Lopes, nas entrelinhas, o que eles querem passar é a mesma mensagem que o rap tem passado para a sociedade desde o começo e fez toda a diferença nas vidas das pessoas. “Eu acredito que é importante levar o rap para outras mídias, seja livro, HQ, filme, série, vlog, etc, para que mais pessoas possam ter contato com ele. Além de diversificar os temas e fomentar o mercado nacional, a gente quer mostrar mais essa possibilidade para a comunidade negra, de contar e tentar publicar suas próprias histórias. Seria muito massa se, depois de nós, outras pessoas se inspirassem a contar suas histórias para também diversificar o lado de cá, de quem tá produzindo” finalizou.
De onde são esses dois rapazes, qual cidade? Show de bola esse trabalho, parabéns 🙂
Bom dia, Thales. Eles são do Paraná. Realmente, o trabalho é excepcional.