Nos últimos anos, a população negra vem encontrando mais espaço para cursar o ensino superior. Dados divulgados no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apontam que, no ano 2001, negros representavam apenas 22% dos estudantes do ensino superior, público e privado, e, em 2015, essa participação alcançou 44%. Segundo a professora do ensino fundamental, arte- educadora e Diretora Executiva da Iniciativa Pretinhas Leitoras, Elen Ferreira, “o Brasil possui uma dívida histórica com a população negra em diversos âmbitos, inclusive no educacional, foram 400 anos nos instituindo como animais. Hoje nossas conquistas de direitos civis educacionais ainda são recentes”, explica.
A pesquisa do Ipea também indica que há um maior ingresso de estudantes por meio de vagas reservadas, pela Lei de Cotas: de 13% em 2012, para mais de 39% em 2017. Apesar da crescente de negros matriculados no ensino superior, de acordo com o Ipea, em 2017, a população negra ainda correspondia a 32% das pessoas com ensino superior completo. E considerando a população com 25 anos ou mais, apenas 9,3% dos negros tinham completado o ensino superior, enquanto na população branca havia chegado a 22,9%.
Além da diferença de conclusão do ensino superior por idade, alunos negros também esbarram em outros desafios durante a vida acadêmica. Um dos obstáculos é a falta de representatividade, que reforça o imaginário social do aluno que, na sala de aula, não é o seu lugar. Uma pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) indica que quase 400 mil pessoas lecionam em universidades públicas e particulares do Brasil, mas somente 62.239 delas, ou seja, 16% do total, se autodeclararam negras (pretas ou pardas). “Ser negro no Brasil é ter aumentada a chance de exclusão escolar, a ausência de políticas públicas para alunos negros, obriga os jovens a largarem os estudos e procurarem ocupações remuneratórias para sustentar suas famílias, por isso apesar dos avanços, ainda são poucos os negros que chegam ao ensino superior e conseguem se formar”, explica Elen.
No ano de 2019, o Governo Federal anunciou o corte de 1,7 bilhões para a educação, a população negra é a mais prejudicada com ausência desta verba, colocando em risco a assistência estudantil, que ajudava na garantia da permanência do aluno na graduação. Apesar de todas essas negativas, o Ipea, em suas pesquisas, projeta que para o futuro a Lei das Cotas, que prevê o ingresso de pelo menos 50% de negros, pardos e indígenas nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), resta a população negra, permanecer na luta pelos seus direitos civis educacionais, para que haja igualdade no sistema de ensino de base e superior.
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