Relatório demonstra e debate o racismo religioso no Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense
Pesquisa realizada com terreiros de religião de matriz africana da Baixada Fluminense e da Zona Oeste do Rio de janeiro, mostra que 75% deles já foram alvo de alguma forma de violência. O estudo disponibilizado nesta segunda-feira (02), foi feito pela Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJRacial) em parceria com o Centro Cultural de Tradições Afro-brasileiras Yle Asé Egi Omim.
O relatório demonstra que nos 12 terreiros que participaram do estudo, em média, as lideranças religiosas são pessoas negras, e 50% delas são mulheres negras. A pesquisa também mostrou que as lideranças possuem entre 35 à 55 anos de idade, e a maior parte dos terreiros são de Nação Ketu e possuem em média 11 anos de fundação em seus territórios.
De acordo com o documento, chamado “Egbé”, que é uma palavra do idioma Iorubá que significa sociedade ou comunidade, a pesquisa foi realizada nestas regiões, por registrarem um número elevado de ocorrências do tipo.
O relatório explica que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), registrou até 2019, 200 casas de axé foram alvo de agressões, considerando também os casos registrados na Zona Norte. A pesquisa revela que segurança pública é um tema central de discussão dos frequentadores destes espaços.
Entre as ocorrência registradas há ameaças, injúrias raciais, agressões físicas, invasões de propriedade e expulsão do território por grupos armados locais. O documento exemplific alguns casos de agressão, e um deles é casa Xwe Nokun Ayono Avimaje, localizada no município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que relatou já ter sidoinvadida e depredada três vezes em 10 anos.
Entre os casos, há relatos de pichações no muro dos terreiros e horários restringindo o tempo dos rituais, para evitar ataques.
A pesquisa procura debater e buscar soluções com as comunidades religiosas, a partir das experiências vividas por elas, de segurança pública. De acordo com o relatório, há descrédito da comunidade religiosa com as instituições policiais em relação a segurança e proteção.
“Há um lema da polícia militar que diz ‘servir e proteger’, uma das respostas dadas pela Iyakekerê (mãe pequena) de uma das casas foi: Servir a quem? Proteger o quê?”, diz trecho do relatório.
A pesquisa aponta que as denúncias acarretam em desapontamento, pois de acordo com eles, as autoridades policiais classificam os casos como briga de vizinhos ou problemas pessoais, afastando a análise dos casos como crime de ódio.
Um dos temas abordados na pesquisa é o debate sobre racismo religioso e intolerância religiosa. Parte do grupo entende que os casos de violência contra religiões de matriz africana precisam ser enquadrados como racismo religioso.
“Eu acredito que o termo intolerância religiosa não dá conta da dimensão real do problema. Nós
precisamos falar de racismo religioso, precisamos falar de racismo! Se as contradições e desigualdades em que vivemos hoje são heranças coloniais definidoras das desigualdades de raça, classe e gênero, então as violências sofridas pelas religiões também estão relacionadas a estas questões. A colonialidade que persiste entre nós ainda hoje se organiza em torno do sistema capitalista, do patriarcalismo e do racismo”, afirma Iyá Wanda Araújo, em trecho da pesquisa.
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