“A escola representa um trauma”: Patrícia Santos desabafa sobre caso de racismo sofrido pelo filho

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Nesta segunda-feira (02) a CEO da EmpregueAfro Patrícia Santos, relatou mais um caso de racismo sofrido pelo filho, o quarto na mesma escola. O caso ocorreu em uma escola municipal de São Caetano do Sul, em São Paulo. Em exclusiva ao Notícia Preta, a empresária desabafou sobre o caso, e afirmou que “a escola representa um trauma” para o filho.

Neste novo caso, segundo o relato de Patrícia, um estudante fez um comentário racista direcionado ao filho da empresária, de 12 anos, enquanto ele se alimentava. “Nossa, você tá comendo?! Nem parece africano”, teria dito o outro estudante. A empresária e ativista está tentando transferir o menino de escola, após o segundo caso de racismo que ele enfrenta, só este ano.

A ativista revelou que ficou devastada, triste e com raiva, e que conversou com a coordenadora e com a assistente de direção da escola. Porém, ela lamenta que mais uma vez, seu filho tenha passado por isso, no ambiente escolar.

“A escola que ele frequenta devia ser um lugar de acolhimento, de memórias boas, relações saudáveis. Mas a escola representa um trauma, um lugar onde ele não quer ir mais. E eu digo que a sociedade está devendo para as nossas crianças, pois quando uma criança sofre racismo significa que a sociedade falhou e muito com as nossas crianças, com a nossa educação”, contou Patrícia em exclusiva ao NP.

No vídeo publicado na rede social, Patrícia mostrou um áudio do filho chorando e pedindo para ser transferido da escola, logo após sofrer racismo pela quarta vez. A empresária explicou que deu entrada na transferência, e revelou que terá reunião com a Secretaria de Educação.

“Eu queria que ele fosse pra uma escola perto de casa, de preferência que fosse pra escola onde meu filho mais velho está, pra ele se sentir acolhido, porém eles disseram que não tem vaga. Amanhã terei uma reunião pra saber o que fazer e como fazer e aí terei de verdade dimensão do caso”, contou Patrícia.

A empresária disse que ano passado quando o pai reportou sobre outro caso de racismo que o filho sofreu, ele pediu a escola que assinasse um compromisso antirracista, mas de acordo com ela, na prática nada foi feito.

“Esse ano chamaram uma professora negra para tocar um projeto chamado ‘Melanina’, mas o projeto é parte dos conteúdos curriculares, e a professora não tem aparentemente muito conteúdo. Da pra ver que ela enquanto mulher negra, não está preparada para lidar com o tema. Ela fez as crianças reproduzirem um musical de conteúdo afro-brasileiro, mas é vazio e inconsistente, não é nem 1% do que a escola precisa fazer para disseminar consciência racial”, afirmou.

No caso de racismo que ocorreu no início deste ano, Patricia conta que foi até a escola falar sobre ferramentas de combate ao racismo, na prática, e exigiu que a escola fizesse aplicação da lei. Mas segundo ela, a diretora apresentou um plano de ensino, que tem a inserção de conteúdo nas competências da matriz curricular, mas segundo ela, sem aprofundamento.

“É tudo muito básico, não vi se os professores tem consistência pra trabalhar o conteúdo”, disse ela.

A empresária entende que não há direcionamento da Secretaria de Educação. Ela revela que teve uma reunião com a supervisora de ensino e a diretora de ensino da região onde a escola do filho está inserida. “Elas disseram que um currículo antirracista assim como existe na cidade de São Paulo, vai ser muito difícil de ser aplicado em São Caetano, mas o ‘muito’ que falta é boa vontade, é determinação, é postura, é querer fazer, quem quer faz, quem não quer arranja uma desculpa, revelou Patrícia.

Ela entende que a Secretaria de Educação não tem medidas eficientes no combate ao racismo, pois segundo ela, os livros que eles adotaram que tocam no assunto não são suficientes. Patrícia sugeriu que deveriam ser realizadas conversas com os pais, prestadores de serviço da escola e com os os alunos. “Tem que mobilizar toda comunidade escolar para consciência racial, e não tenho visto isso“, disse.

Nas redes, a CEO da EmpregueAfro também afirmou que o filho segue com acompanhamento psicológico, e disse que a família acionou o Ministério Público para uma ação que pressione a cidade para a plicação de um currículo antirracista.

Entramos em contato com a Secretaria de Educação de São Caetano do Sul e não obtivemos resposta até o fechamento da matéria.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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