Prefeito do Rio chama Babalawô Ivanir dos Santos de preconceituoso e reacende debate sobre diversidade no Réveillon de Copacabana

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Eduardo Paes, prefeito do Rio, chama babalawô Ivanir dos Santos de preconceituoso e reacende debate sobre diversidade religiosa.

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, chamou de “preconceituoso” o babalawô e professor Ivanir dos Santos após o líder religioso criticar a falta de assimetria no tratamento das diferentes manifestações religiosas no Réveillon de Copacabana. Ivanir afirmou que a crítica não é à existência do palco gospel, que é montado pelo segundo ano consecutivo, mas à falta de equidade no tratamento entre diferentes religiões na maior festa de ano novo do país.

Segundo Ivanir, as religiões de matriz africana tiveram papel central na construção simbólica da virada carioca, especialmente os rituais ligados a Iemanjá e a tradição de roupas brancas e oferendas, e perderam protagonismo ao longo dos anos. Ele defendeu que diversidade “não pode ser apenas discurso”, mas deve se traduzir em práticas concretas de reconhecimento e igualdade no uso do espaço público.

Em resposta, Paes afirmou em rede social: “É impressionante o nível de preconceito dessa gente. O réveillon da praia de Copacabana é de todos! A música gospel também pode ter seu lugar. Assim como o samba, o rock, o piseiro, o frevo, a música baiana, a mpb, a bossa nova…. Cada um que fique no ritmo que mais curte! O povo Cristão também tem direito a celebrar! Amém! Axé! Shalom! Namaste!“, publicou o prefeito.

Eduardo Paes, prefeito do Rio, chama babalawô Ivanir dos Santos de preconceituoso e reacende debate sobre diversidade religiosa.

A publicação gerou forte repercussão. Nos comentários, o ator e roteirista Ernesto Xavier destacou que o Réveillon de Copacabana tem origem nas religiões de matriz africana e afirmou que essas tradições não recebem o mesmo apoio, verba e espaço que manifestações cristãs: “Errou feio, prefeito. O reveillon de Copacabana surgiu com as religiões de matriz africana, com Tata Tancredo. Foi a prefeitura que exilou as religiões de matriz africana do seu espaço de celebração e culto, que hoje dá muito lucro para a cidade. Você deveria agradecer o povo de terreiro. Não é a toa que povo pula 7 ondas, veste branco e joga flores no mar. Ter um palco gospel, em si, não é um problema. O problema é que nós, povo de terreiro, não temos o mesmo apoio, nem verba, espaço ou incentivo. Justamente as religiões que nos atacam constantemente é que recebem apoio, verba, espaço na festa que tem raizes afro. Entendeu ou quer que eu desenhe?

Outra seguidora criticou o modo como o prefeito se referiu a Ivanir, ressaltando sua trajetória na defesa da liberdade religiosa e denunciando dificuldades para realização de rituais afro-religiosos na praia. Outra usuária questionou a expressão “essa gente”, afirmando que seguidores dessas religiões merecem respeito. “Para mim, assustador é a forma como voce se refere a uma autoridade religiosa como Ivanir dos Santos que tem lutado pela liberdade religiosa, pela segurança dos povos de terreiro e,principalmente, pela garantia do livre exercício da nossa fé. Acho que ficou bem evidente que há um desinteresse público em promover e proteger nossos eventos culturais“, comentou.

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O debate ocorre em um contexto de aumento de registros de ataques e crimes associados à intolerância religiosa no Rio de Janeiro. Em 2023, foram quase 3 mil ocorrências relacionadas a preconceito religioso e racial no estado, segundo registros policiais. Dados do Instituto de Segurança Pública indicam que os casos de ultraje a culto cresceram 56% em 2024 (janeiro a setembro). As religiões de matriz africana seguem como as principais vítimas, especialmente na Baixada Fluminense e Zona Oeste. Mulheres também são maioria entre as vítimas registradas. Denúncias podem ser feitas pelo Disque 100, delegacias e Disque Denúncia (181).

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