Tradicional na cidade de Tiradentes, região central de Minas Gerais, o congado Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia foi proibido de entrar na igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, pelo pároco Álisson Sacramento, no último sábado (26). O padre assumiu a administração da paróquia em 2019 e disse que a medida não foi um ato discriminatório, mas doutrinal.
Segundo ele, outos grupos de congado, que levam nomes de santos da igreja católica, inclusive negros, são aceitos normalmente no espaço. Ainda de acordo com Álisson, Anastácia não é considerada santa pela igreja Católica e, por isso, a tomada da medida. “Estão acusando de preconceito, mas não tem nada disso. A questão é doutrinal, com relação à doutrina da nossa fé católica. Primeiramente, porque o nome desse congado é Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia. Para nós, da igreja Católica, a santidade de uma pessoa é muito bem analisada para que a gente possa cultuar como um santo ou uma santa. Para ser um congado, um movimento oficial, o culto a um santo oficial deveria ser daqueles que são canonizados.”, disse o pároco ao jornal O Tempo.
O congado Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia foi criado em 2012 e até este ano, não havia recebido a proibição de circular na Igreja. Questionado sobre por que os padres anteriores permitiam o congado no templo, o pároco alega que eles eram mais “liberais”. “Eram liberais não só nesse sentido, mas em outros, infelizmente. Acontecia muita coisa aqui que, infelizmente, não estava de acordo com o que poderia acontecer”, disse.
Retrocesso
Maria José Vargas Boaventura é ex-frequentadora da igreja e, ao jornal O Tempo disse que vê a atitude do padre como um retrocesso das conquistas dos povos pretos no Brasil. “Vejo com muita tristeza, como me entristecem outros retrocessos que ocorrem em nosso país. Muitos africanos escravizados já chegaram aqui devotos do Rosário”, lamentou.
Maria José lembra que o papa Francisco prega justamente o diálogo entre as doutrinas para harmonia entre os fiéis. “O Papa Francisco é o maior exemplo de respeito à diversidade e à religiosidade plural. Muitos teólogos e estudiosos renomados como o Monge Marcelo Barros e Faustino Teixeira, da UFJF, têm contribuído para ampliar o conhecimento e o diálogo entre a variedade de práticas religiosas, afastar os preconceitos e abrir as mentes retrógradas”, finalizou.
Escrava Anastácia
Segundo o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (Ceert), Anastácia chegou ao Brasil em 1740, em um navio negreiro vindo de África. Era conhecida por reagir e lutar contra a opressão do sistema escravista. Segundo o Ceert, ela é considerada uma das mais importantes figuras femininas da história negra, a vida da escrava Anastácia é um misto de luta, bravura, resistência, doçura e fé.
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