Uma pesquisa realizada pelo Datafolha revela que mulheres negras são maioria nas igrejas evangélicas na cidade de São Paulo. Foram ouvidos 613 moradores da capital paulista, e das mulheres negras que participaram, a maior parte que frequentam as igrejas fazem parte de famílias com renda de até três salários mínimos.
O Notícia Preta conversou com a pastora Simone Queiroz, presidente da igreja Ministério Profético Yahweh, localizada em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, sobre a presença de mulheres negras nessas instituições, e sobre sua própria experiência na igreja, como uma mulher negra.
“Algum tempo atrás, por ser jovem negra, sentia muitas dificuldades de participar de alguns ministérios dentro da Igreja. O estereótipo da mulher negra não era adequado para certos movimentos de dança, por exemplo, em alguns momentos pela exuberância do corpo, em outros pelo cabelo diferente e /ou Tom da pele que desentuava das demais. No coral, não se via solista negra!”, conta.
Para ela, os evangélicos praticam a fé e reconhecem que precisam fortalecer em Deus todos os dias para vencer diariamente as dificuldades, o racismo entre tantas coisas. “Acredito também que depois de tantos movimentos de avivamento pentecostal que houve (exemplo da Rua Azuza), depois desse movimento de empoderamento das mulheres causou uma explosão de um número muito considerável de mulheres negras participando ativamente das comunidades evangélicas“, declara ela.
Recentemente uma pesquisa divulgada pelo Datafolha, mostra que sete em cada dez evangélicos são contra que pastores ou líderes das igrejas indiquem candidatos em quem votar nas eleições. Simone fala sobre a questão da política dentro da igreja.
“A política está envolvida em tudo direta e/ou indiretamente, mas não podemos deixar que a Igreja seja influência pela política. Muitos usaram o autoritarismo em nome de Deus, causando sofrimento, discriminação e uma enorme distância entre o povo, gerações morreram torturados, sem a oportunidade de conhecer de fato, através”, afirma Simone.
Simone é lésbica e casada por 29 anos, além de ser mãe e também avó. Ela diz que particularmente não gosta de ter que falar que a Igreja que preside é inclusiva, “pois o Evangelho é Inclusivo, Jesus inclui todos“, mas entende que certas vezes é necessário reforçar certas questões. “Como tudo e todos nos dias de hoje precisam, oficialmente, ser declarado incluído para existir e ter voz e direito… Especificamos assim: Igreja Evangélica Inclusiva. Lá, todos são bem vindos“.
Conforme o levantamento, 71% frequentam templos de pequeno porte, com capacidade de até 200 pessoas. Quatro em cada dez entrevistados frequentam uma igreja evangélica desde que nasceram ou antes dos 12 anos. Simone conta que cresceu na religião por influência de sua avó e mãe, e revela ter sofrido homofobia após assumir um relacionamento homoafetivo.
“Quando cresci, tomei as rédeas da minha vida. Casei, não deu certo. Tentei outra vez em um novo relacionamento que também não deu certo. Tive dois filhos maravilhosos, passei pela religião de matriz africana onde percebi que não tenho afinidade para proferir a minha fé lá, então voltei para Assembleia de Deus onde conheci a minha esposa. Mas, fomos expulsas de lá por conta de toda homofobia que conhecemos bem”, disse ela.
A partir de sua experiência, a pastora fala sobre a vivência das mulheres negras nas igrejas evangélicas. “Somos fortes, criativas e persistentes. Temos uma história de sofrimentos, em toda existência e com toda essa bagagem histórica, nos revelamos fortes, resistentes e mulheres de muita fé.
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