“Você não é bem vista por nós aqui”, diz vizinha ao agredir mulher negra dentro de elevador em Natal

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“Negra nojenta” e “preta safada” foram algumas das ofensas que Flávia Carvalho, uma mulher negra de 36 anos, sofreu ao ser agredida por duas mulheres brancas dentro do elevador de um prédio na Zona Sul de Natal, no Rio Grande do Norte.

As agressoras Regina Araújo, 63, e Suedja Araújo, 42, são mãe e filha e moram no mesmo edifício que Flávia. Elas negam a acusação de xingamentos racistas. A respeito das agressões, Suedja alega ter agido “no calor do momento”, em defesa da mãe.

De acordo com Flávia, que é gerente de vendas, as vizinhas não a queriam no mesmo ambiente: “Elas diziam que eu ia ter que sair dali, que uma preta safada como eu não merecia morar naquele lugar”, conta.

Câmeras do prédio registraram o momento da agressão / Foto: print vídeo

A gerente de vendas denunciou as vizinhas e no boletim de ocorrência a ação foi registrada como “injúria racial”. O crime passou a ser inafiançável em maio deste ano e a pena pode chegar até 5 anos de prisão, de acordo com a Lei 7.716/89.

Os ferimentos causados pela agressão foram considerados leves, de acordo com a equipe da perícia. As marcas físicas, porém, não são maiores do que o impacto psicológico que Flávia diz carregar: “Está na alma. De todo mundo que tem a cor da minha pele, que normalmente não tem voz nesse tipo de situação, ou que é visto como o bandido”, desabafa.

A gerente afirma que dará seguimento ao processo judicial e que desta vez fará “o que estiver ao alcance legalmente para que não fiquem impunes”.

Nas redes sociais, um ato antirracista está sendo organizado para a próxima sexta-feira (16). A proposta é que a mobilização seja feita em frente ao prédio onde moram Flávia e as vizinhas pelas quais sofreu a agressão.

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), se manifestou em repúdio ao caso e apontou a ação como “abominável”. Ela completou com a seguinte frase: “racistas não passarão”. “O nosso governo é responsável pela criação do Departamento de Proteção a Grupos em Vulnerabilidade (…) focado e efetivo no combate a esse tipo de crime repugnante“, publicou.

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O crime 

Segundo Flávia, ela e as vizinhas não têm uma boa relação. Os conflitos onde elas estão envolvidas acontecem há pelo menos dois anos. Ela conta que durante esse período, houve um episódio em que Flávia flagrou o momento em que a pensionista Regina Araújo incitava ameaças contra sua integridade:

“Você não é bem vista por nós aqui. Você ultrapassou os limites. Mas se deu mal. […] Se você chamar para briga vai ter briga, se você chamar para pau (em referência a violência física), vai ter pau”, diz a idosa no vídeo, registrado através do olho mágico.

A gerente conta que o conflito teve início em um dia que o volume do som emitido pela casa de Regina estava causando incômodo. A defesa da idosa, no entanto, rebateu a denúncia e acusou a própria Flávia de estar com o volume elevado.

O advogado Fernandes Braga, que representa as agressoras, acusa Flávia de ter iniciado o conflito com o abuso do volume do som e por ocupar a vaga da garagem que seria utilizada pela mãe e filha.

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Além de negar os xingamentos de cunho racista, ele alega que Flávia está agindo sem provas ao fazer justiça à espécie do crime: “se utilizar da importante bandeira de combate ao racismo para mobilizar a sociedade em prol de satisfação pessoal”.

“Ao longo dos últimos dois anos o que ficou claro é que as agressoras, incomodadas com a Flávia ocupando um espaço social que, na visão delas, não deveria ser franqueado a pessoas negras, passaram a buscar motivos inexistentes para acusá-la de perturbações, barulhos e uso indevido do imóvel”, rebateu Abaeté Mesquita, advogado da vítima.

Regina e Suedja Araújo também registraram denúncia contra Flávia Carvalho, a acusando de proferir ofensas contra uma pessoa com mais de 60 anos. Mesquita, no entanto, afirma que “sob nenhum aspecto, há possibilidade de reduzir o caso a uma simples briga de vizinhas”.

O representante da vítima ainda afirmou que as agressoras agiram na tentativa de promover uma “nuvem de fumaça”, a fim de que a relevância do caso seja amenizada. O fator de maior gravidade é que além da injúria racial, a lesão corporal dolosa foi praticada por duas mulheres brancas contra uma mulher negra.

O caso segue em andamento e, em breve, as agressoras prestarão depoimento, afirma a Polícia Civil. E as testemunhas também serão convocadas para relatarem o que presenciaram. 

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