Livro de Teresa Cárdenas sobre ancestralidade aborda relação de afeto entre avô quilombola e sua neta

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Com tradução de Caio Riter, “Meu avô Tatanene”, da escritora afro-cubana, é a nova aposta da Editora de Cultura

O livro “Meu avô Tatanene”, da premiada escritora afro-cubana Teresa Cárdenas é focado na relação de afeto entre Reglita, uma menina de doze anos, e seu avô Gregório, um quilombola já idoso que sonha ir à África para conhecer a terra de onde seu avô veio e deu origem a sua família. Publicada pela Editora de Cultura com tradução de Caio Riter, a obra, através de uma narração infantil bem conduzida, mescla imaginação, histórias ancestrais, memória, resistência e construção de identidade com momentos de amor e descoberta.

Já conhecida no Brasil pelos livros “Cachorro Velho”, vencedor do Prêmio Casa das Américas de Cuba em 2005, e “Cartas à Minha Mãe”, Teresa Cárdenas se reafirma como uma voz importante no universo da literatura infantil e juvenil do nosso país. Com uma abordagem sensível e criativa, a escritora trabalha a ancestralidade e o afeto familiar para falar sobre envelhecimento, divórcio, o passado escravocrata e a África real e imaginária, terra da liberdade para o quilombola sonhador.

Durante o Festival Latinidades de 2015, Teresa afirmou: “Sou tida como uma autora de temas difíceis para crianças, como morte, vida, violência, imigração, partidas, encontros e desencontros”. E quem conhece seus livros sabe que esse pode ser um modo de ver sua obra. Em “Meu avô Tatanene”, mais uma vez, questões complexas, como a morte de um ente querido e o alcoolismo, se apresentam. Sem subestimar seus leitores jovens, ela trabalha a importância da memória, da identidade e da resistência em uma história escrita para tornar crianças e adolescentes mais conscientes de si e do mundo.

A escritora afro-cubana explora a ancestralidade em seu novo livro, e a relaçao de duas gerações /Foto: Divulgação

Segundo a escritora, seu fascínio pelo mundo dos livros e da literatura aconteceu bem cedo. “Tudo o que caía em minhas mãos era bem recebido. Por isso, acho que começar a escrever foi algo que evoluiu em mim de maneira natural, constante e coerente. Em quase todos os livros que consegui escrever e publicar, continuo sendo aquela Teresa, menina questionadora, curiosa, cujo olhar vai muito além do que ela mesma percebe”, afirmou em entrevista com Zeca Gutierres.

Por ter percebido que havia poucos negros nas histórias infantis, sua escrita surgiu. Hoje, sua obra é considerada uma importante influência para a construção de autoestima de meninos e meninas negros.

Além de escritora, Teresa Cárdenas também atua como contadora de histórias, conferencista, atriz, ativista social e bailarina folclórica. Tem livros publicados em diversos países, como Suécia, Canadá, Estados Unidos, Coreia, Cuba e Brasil.

Confira um trecho do livro:

“Vovô também queria ir para a África. Não para lutar nem para morrer por alguma coisa mas, sim, para ver onde tinham nascido seus avós. Sempre sonhava com tudo o que Simbao teve que deixar para trás.

Me falava tanto das florestas e dos prados africanos que, ao entrar em seu quarto, eu imaginava penetrar na selva. De qualquer canto, via saltarem gazelas, zebras; elegantes manadas de girafas cruzavam um rio cristalino, que brotava embaixo dos sapatos dele; macaquinhos de cara branca brincavam com seu travesseiro; árvores gigantes estendiam seus ramos e galhos até o teto e saíam pela janela, atravessando a vidraça sem quebrá-la.

Até sua cama se transformava diante dos meus olhos em um prado solitário, onde se escondia o sol vermelho do fim da tarde e meu avô, transformado em montanha, dizia:

— De lá saímos, Reglita. A África é nossa mãe.”

(Página 18)

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