Africanidades: livraria oferece acervo especializado em narrativas pretas

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As inquietações e os silêncios que fizeram presença na vida de Ketty Valencio, levaram a bibliotecária abrir a livraria Africanidades, especializada em literatura afro-brasileira e feminista. A iniciativa busca mais representatividade e presença, não só de autores negros na literatura, mas também a representação dos corpos negros em obras populares. A empreendedora contou em entrevista exclusiva ao Notícia Preta um pouco da sua história e a importância de encontrar na representatividade uma forma de legitimação da pessoa negra.

“Minha linhagem ancestral é composta por pessoas incríveis, sou o resultado disso tudo. Sou bibliotecária, pesquisadora, livreira, idealizadora e proprietária da livraria Africanidades, que é um empreendimento de pequeno porte, com o acervo especializado em narrativas pretas, principalmente produzidas por mulheres pretas”.

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Livraria Africanidades. Foto: Ketty Valencio/Acervo pessoal.

Criada em 2013, no formato de um e-commerce, a livraria em pouco tempo expandiu seu acervo e hoje já funciona como loja física, virtual e itinerante, sediando eventos como rodas de conversas e leituras, cineclubes, saraus, lançamentos de livros e oficinas de escrita criativa.

Apesar do seu surgimento em 2013, Ketty conta que a concepção da Africanidades tem haver com a sua trajetória de vida: “Minhas inspirações são infinitas, como os meus familiares que tem muito forte a questão da oralidade. Também me inspiro no Coletivo Quilombhoje, com os cadernos negros; na livraria Kitabu e tantas outras e outros que vieram antes de mim”. Ketty diz que a sua ideia não é inédita e sim uma continuidade. “É apenas uma semente e a continuidade de pessoas e iniciativas que vieram antes de mim, para que a literatura se torne o codinome de experiências negras e que a maioria da população brasileira, que é preta e feminina, possa ser o que quiser e romper com suas mordaças”, pontua.

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Criadora da livraria especializada em literatura negra, Ketty Valencio. Foto: Ronald Santos Cruz

A relação da paulistana com a leitura começou ainda na infância, pois desde criança, por ser muito tímida, tinha como hobby observar as pessoas no seu cotidiano e escrever em seu diário. Outro fator que facilitou essa aproximação com a literatura, foi conhecer as religiões de matrizes africanas, pela ótica da família.

“Minha mãe contava para mim e minha irmã alguns itans e meu avô, que era analfabeto, também contava algumas histórias fantásticas da cultura popular. Outra parte determinante que impactou a minha juventude, foi conhecer o movimento hip-hop, pois eles me aguçaram a conhecer e pesquisar a história protagonizada pelas pessoas pretas”, declara.

Empreendedorismo Negro no Brasil

Aproximadamente 50% dos empreendedores brasileiros se declaram como negros ou pardos, de acordo com o Sebrae. Ainda que a maioria se encaixe nas categorias de micro e pequeno empresários, a crescente do empreendedorismo negro pode indicar parte de sua movimentação pela busca de uma vida melhor e por mais representatividade.

Além disso, negros e pardos correspondem a 64,2% dos trabalhadores desempregados, segundo o informativo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil.

A dificuldade de acesso ao mercado de trabalho força muitas pessoas a empreender por necessidade, o que acaba fortalecendo o crescimento do empreendedorismo negro, que além do fato de empreender, tem que lutar contra o racismo estrutural e outros problemas sociais.

Leia mais: Empreendedorismo negro e feminino resiste através da história

Localização

O espaço físico da Livraria Africanidades esta localizado na Rua Paulo Ravelli, 153 – Vila Pita – São Paulo (SP).

As visitas são feitas apenas com horário agendado, que pode ser marcado pelo direct ou e-mail, porém quando tem eventos, que geralmente acontecem aos fins de semana, as visitas podem ser feitas em qualquer horário. A livraria esta nas redes sociais como @livrariaficanicades.

Thayná Braulino

Thayná Braulino

Meu nome é Thayná Braulino e atualmente eu resido na cidade de Lins, interior de São Paulo, mas sou natural de Santo André - SP e tenho 26 anos. Sou formada em Arquitetura e Urbanismo, Pós graduada em Arquitetura e Patrimônio e Capacitação em Cultura e Sociedade. Gemeniana da cabeça aos pés, apaixonada por artes, história, cultura, pautas sociais e raciais e por escrever.

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