“Não podemos nos condicionar a sermos apenas ‘chaveiros'”, diz a artista trans Paola Valentina

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Nesta quarta-feira (28) é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+ e o Notícia Preta conversou com a atriz, cantora e apresentadora Paola Valentina que enquanto mulher trans, fez um balanço sobre o movimento LGBTQIAPN+ no Brasil, sobre as dificuldades que pessoas trans enfrentam na área da empregabilidade, e sobre políticas públicas importantes para a comunidade.

A apresentadora do Talk Show “#Paolacomvida” analisou os avanços e retrocessos que fazem parte da realidade de pessoas LGBTQIAPN+ após 54 anos da Rebelião do Stonewall, movimento que marcou o dia 28 de junho para a comunidade, e sobre as mudanças que ela espera.

Fazendo uma análise sobre a luta com o passar dos anos, a artista ressaltou o ativismo de personalidades que fizeram história. “É importante evidenciar que diante ao grito de liberdade de Marsha P. Johnson, mulher negra e ativista da causa LGBTQIAPN+, o mundo nunca mais foi o mesmo”, disse ela. Mas ainda sim, Paola reforça a importância de continuar lutando já que as mudanças demoram a acontecer.

“Os avanços são lentos considerando a questão estrutural e social preconceituosa do país em que vivemos. Há muito o que fazer por nossa comunidade, a luta é contínua, ainda estamos nas estatísticas como país que mais mata pessoas LGBTQIAPN+ e especificamente pessoas Trans/Travestis. Precisamos urgentemente pautar políticas públicas que contemplem a segurança de nossa existência, enquanto houver medo, não haverá despontamento de liberdade para nossa existência”.

Os Brasil foi o país com o maior número de pessoas trans mortas no mundo em 2022. Foram 242 homicídios e 14 suicídios, segundo o Grupo Gay da Bahia. O levantamento realizado também mostrou pessoas homossexuais são, em número absoluto, as mais atacadas mas a população trans, proporcionalmente, corre 19% mais riscos de ser vítima de crimes letais.

A atriz, cantora e apresentadora Paola Valentina /Foto: Divulgação

Sobre a questão da empregabilidade, uma pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) revelou que apenas 16,7% das pessoas transgênero se encontram no mercado de trabalho atualmente. A apresentadora comentou os desafios que enfrentou para se estabelecer em um trabalho formal, e explicou a sua visão sobre o assunto.

“Adentrar no mercado de trabalho é um grande desafio para pessoas trans/travestis. Por inúmeras vezes tive que renascer todas as manhãs e enfrentar a busca pelo trabalho formal. Driblar o preconceito é missão constante dos nossos corpos. O preconceito é imenso, somos vistas apenas como corpos exóticos sem nenhum tipo de intelecto”, disse Paola, que continuou desenvolvendo o assunto.

“Hoje existem várias empresas friendly da comunidade LGBTQIAPN+, mas que infelizmente, usam disso como artificio de inclusão comercial, sinto que além de incluir é necessário dar acesso de participação, não podemos nos condicionar a sermos apenas “chaveiros” de uma instituição/empresa, precisamos caminhar para além da cota e evidentemente precisamos de política pública de educação. O que nos torna potência em uma sociedade preconceituosa é o acesso à educação, com conhecimento deixamos de ser as marionetes que a sociedade espera”.

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Perguntada se acredita que o Brasil faz esforços necessários para solucionar questões graves como a empregabilidade de pessoas trans e as violências que essas pessoas sofrem, Paola afirmou que não vê o tipo de movimentação necessária para mudar esse cenário.

“Não faz esforço nenhum! Ultimamente tenho notado que foi iniciada uma caça aos corpos trans/travestis, com o avanço do fundamentalismo nesse país. Somos as bruxas que devem ser queimadas imediatamente. E esse esforço também não acontece dentro da própria comunidade. É preciso alinharmos nossas pautas com amorosidade e afeto, mas ainda temos que lidar com o ego, lacração, branquitude e elitismo”.

Além disso, a artista e apresentadora finalizou falando sobre seu desejo diante tantos ataques às pessoas LGBTQIAPN+. “Celebrar nossa existência em paradas do orgulho é incrível, mas quero poder celebrar nossa existência em cargos de ascensão, com saúde, respeito e valorização, só assim poderemos comemorar o dia do orgulho em totalidade”.

Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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