Um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que, entre os anos de 2019 e 2020, houve um aumento de 12% nas mortes em decorrência de intervenção policial.
Ainda de acordo com os dados do Anuário de Segurança Pública, as mortes de civis deram um salto de 107 óbitos em 2019, para 120 no ano de 2020, mesmo em período pandêmico, quando se teve uma circulação menor de pessoas. Desse total, quase 80% dos mortos são negros e 44,8% possuíam entre 18 e 24 anos.
Ludmila Ribeiro, pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, ressalta que a impunidade é uma das causas do atual quadro e as investigações não avançam como deveria ser. “A ausência de elementos que permitam dizer que de fato foi um crime ou que não atirou em legítima defesa atrapalha. E quanto tem punição, como em situações que um policial começa a matar demais, o que a gente observa é que as patentes mais baixas são punidas e não os responsáveis por coordenar essas operações”, disse em entrevista ao jornal O Tempo.
Herança da escravidão
Para o pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Denis Pacheco, a criminalização de negros e pobres é uma herança escravocrata e que aumenta as mortes por intervenção policial contra essas camadas. “É olhar para alguém e saber se essa pessoa é um criminoso ou não, e quais são os elementos que vão identificar um criminoso. E são justamente elementos culturais, a forma de andar, de falar, se vestir, o lugar onde essa pessoa está, a cor de pele. Entender que a função da polícia é o controle social e o mecanismo que ela para exercer esse controle é o racismo, significa entender basicamente a história do Brasil”, afirma.
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Em nota, a Polícia Militar disse que “é uma instituição múltipla, com um dos menores índices de letalidade do país, e que, em conjunto com outras forças de segurança, vem reduzindo de forma vertiginosa a criminalidade em Minas e a instituição respeita os direitos humanos, sem qualquer tipo de discriminação, seja de raça, credo ou gênero”.