“Falta de ética”: Lab Fantasma publica comunicado sobre caso de plágio

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A Laboratório Fantasma, empresa de Emicida e de seu irmão Evandro Fióti, emitiu um comunicado nas redes sociais, no final da noite de quarta-feira (18), sobre o caso de plágio do projeto “AmarElo”. A nota destaca que o projeto lançado em 2019 é resultado de mais de 12 anos de trabalho, que foi premiado e elogiado, apesar das dificuldades na indústria.

Acontecimentos como esse, que envolvem o uso de propriedade intelectual sem permissão e a falta de ética de um mercado composto majoritariamente por pessoas brancas, infelizmente são recorrentes. E ressaltamos que isso gera a nossa profunda indignação!“, diz um trecho da nota publicada após a Bauducco anunciar o cancelamento da campanha.

Evandro Fióti e Emicida /Foto: Reprodução Instagram

O comunicado explica que a empresa convidou o rapper paulista para fazer a campanha, que tinha como objetivo central o reposicionamento da marca, mas que o acordo não foi feito por questões financeiras. “A agência [responsável pelo projeto] alegou que não havia recursos para conceber o projeto no formato proposto, o que fez com que a negociação não fosse adiante“.

Fomos pegos de surpresa ao constatar que, ainda assim, esta mesma marca seguiu com a estratégia e, pior, utilizou muitos dos elementos que remetem ao experimento social “AmarElo” sem qualquer diálogo ou autorização – e com com a participação de outras artistas“, diz outra parte da nota, que também afirma não ser um caso isolado.

Não é sobre um caso isolado ou sobre as artistas envolvidas e, sim, sobre a constante tentativa de apagar ou se apropriar de criações que são resultado de pesquisa, trabalho duro e fruto da conexão real com a nossa ancestralidade. Algo que acontece em escala, sobretudo, no entretenimento e na publicidade“.

A empresa de Emicida também afirma que a intenção nunca foi “incentivar o hate ou o cancelamento de qualquer parte envolvida“, mas que é preciso “lembrar que se faz necessário trazer esse tema para o holofote e, assim, bradar por mudanças e por um mercado mais ético, plural e que não ignore a humanidade de nenhum indivíduo“. A nota finaliza reinvindicando mais respeito na indústria:

A Laboratório Fantasma é uma organização afro-empreendedora que nasceu na periferia de São Paulo com o propósito de transformar a realidade da nossa sociedade, tendo a arte, a cultura e a música como instrumentos de combate às desigualdades, às violências e a todo tipo de discriminação. Não é a primeira vez que somos vítimas de violações como essas e acreditamos que a discussãoi gerada tem o importante papel de contribuir para que possamos atuar por um mercado mais humano, ético, respeitoso e que valorize, de fato, a diversidade e a pluralidade do nosso pais“.

Para além da nota

Antes da nota ser divulgada, o CEO do Laboratório Fantasma Evandro Fióti, também se pronunciou em seu perfil no X (antigo Twitter).

A Campanha caiu, e embora tentem atacar minha reputação é mais uma Pratica violenta e racista. Quem intermediou todas as negociações de forma honesta, ética e coerente, fui eu. Desde o diálogo com agência e marca, ate a conversa com as artistas que fizeram parte da música. Reafirmo que além de provar a apropriação e desrespeito com nosso trabalho, a campanha foi cancelada pois eu acompanhei 100% deste processo e tenho experiência e notoriedade para conduzir essa situação. Podem espernear, mas esta comprovando“, escreveu no post.

O produtor também falou sobre as artistas envolvidas no projeto, e os ataques que está sofrendo com a repercussão do caso.

Inclusive dei visibilidade as artistas da faixa onde os problemas ocorreram e forma ética e respeitosa. Esse episódio é importante como conscientização, educação e reparação e isso norteara nossos passos. No mais quem seguir me ofendendo gratuitamente, vai responder na justiça“, disse.

Entenda

Após a artista Juliette lançar a música “Magia Amarela“, em parceria com a cantora Duda Beat, nesta terça-feira (17), as artistas foram acusadas de plagiar o projeto “AmarElo”, de Emicida, que foi lançado em junho de 2019. Internautas apontaram as semelhanças entre os dois projetos a partir da fonte usada, os elementos do cenário da capa do single, além do próprio conceito do trabalho, e o nome.

Além dos internautas, Evandro Fióti também denunciou o plágio, desabfando nas redes. “A gente levou 12 anos para ganhar um Grammy. E o trabalho que a gente ganhou um Grammy acabou de ser roubado conceitualmente. Entendeu? Tem noção o ódio que gera? Tem noção a vontade que dá de botar fogo em tudo?“.

Em nota, a equipe da Juliette afirmou que estão tomando as medidas cabíveis.“Informamos que a música “Magia Amarela” faz parte de uma campanha publicitária e que Juliette foi contratada como uma das intérpretes para este trabalho audiovisual. A equipe da cantora está em contato com os contratantes responsáveis pela criação e produção da campanha para mais esclarecimentos”.

Depois de apagar a primeira nota, Duda Beat fez um novo pronunciamento.

Ratifico que não existiu qualquer participação criativa minha na concepção, identidade visual, composição da letra ou produção musical da faixa/jingle publicitário da campanha Magia Amarela, da Bauducco.Peço desculpas pela situação gerada e renovo meu compromisso de estar vigilante sobre os direitos de propriedade intelectual e a diversidade de oportunidades dentro do contexto artístico e comercial que me couber daqui por diante. Por fim, informo que a campanha foi cancelada e a música retirada das plataformas digitais”.

Já a Bauducco, após a repercussão, publicou uma nota cancelando a campanha, e afirmando que a tipografia usada já foi usada pela marca em outras ocasiões, e que a participáção das cantoras “se restringiu à interpretação da música-tema, sem vínculo com a criação da campanha“.

Leia também: Juliette e Duda Beat são acusadas de plagiar “Amarelo”, do Emicida, em novo single

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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