“Só precismos de uma oportunidade”, diz jovem negra e quilombola que passou em primeiro lugar para Medicina

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Alícia de Oliveira Nascimento, de 22 anos, é uma jovem negra nascida e criada na Associação dos Remanescentes de Maria Joaquina, uma comunidade quilombola no município de Cabo Frio, interior do Rio de Janeiro. Ela passou em primeiro lugar em medicina na Universidade Federal do Pampa (RS)

A jovem mora com a  mãe e estudou a vida toda nas escolas públicas da rede municipal de Armação dos Búzios (município vizinho).  Alícia viu na educação uma oportunidade de mudar a própria realidade e investiu no sonho infantil de se tornar médica.

 “Desde o ensino fundamental, eu sempre me esforcei para que isso acontecesse. Era uma aluna curiosa, sempre representante de turma, sempre a primeira a chegar. Eu me comportava ainda que criança de acordo com meu sonho de cursar medicina”, conta ela.

Alicia aprovada em Medicina na Universidade Federal do Pampa. Foto: arquivo pessoal

Alícia diz que no ensino médio cursou formação de professores, enquanto se preparava para o vestibular. Após o ensino médio, estudou em casa por conta própria durante três anos.

“Fazia Enem e vestibulares próprios das faculdades. Sempre ficava na lista de espera e não conseguia. Então minha mãe se apertou e me colocou em um cursinho pré-vestibular”.

A rotina de estudos era de 8h às 22h todos os dias. Ela saia de casa às 5 da manhã e voltava às 23h, devido à dificuldade de locomoção no município em que morava.

Em meio a preparação para o Enem, a estudante foi diagnosticada com artrose nos joelhos.
”Muitas das vezes com bastante dor, mas eu me esforçava. Chorava e estudava“, relembra.

A Quilombola Alícia enfrenta dificuldades para assumir a vaga

Agora, a meta da futura universitária é conseguir cursar a faculdade. Ela enfrenta dificuldades financeiras para de fato assumir a vaga na Federal no Rio Grande Sul.

 “Minha família não tem condições de arcar com uma mudança de estado mais o tratamento do meu joelho, uma vez que o especialista no meu caso é particular e o SUS não cobre o tratamento”, afirma a quilombola.

Como médica, ela espera ser uma profissional empática com o olhar voltado para o povo negro e comunidades tradicionais.

“Meu sonho agora é de fato conseguir me formar e usar meus conhecimentos ajudando outras pessoas, principalmente o meu povo”, diz ela.

A jovem acessou a faculdade de medicina por meio da política cotas para pessoas negras e quilombolas. Alícia  revela que recebe mensagens dizendo que a história dela tem incentivado jovens, crianças e mulheres negras.

“ Às vezes só precisamos de uma oportunidade! Que estejamos uns ajudando aos outros. Estarei sempre a disposição. Você pode ser e alcançar o que quiser”.

Ela diz ter esperança que depois dela outros jovens negros consigam alcançar as universidades federais e mudar a realidade de suas famílias e comunidades.

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Marina Lopes

Marina Lopes

Marina Lopes é jornalista e escritora juiz-forana, apaixonada pela palavra e por contar histórias através dela.

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