No Brasil 116,8 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede PENSSAN.
Uma dessas pessoas ,que se encontram na zona da insegurança alimentar, é Fatima Pereira, de 55 anos, moradora de São Gonçalo-RJ e auxiliar de serviços gerais. Fátima convive com um câncer de mama e o salário mínimo que recebe não é suficiente para viver. “Não como coisa boa todo dia, mas fome não passo. Tenho minhas coisinhas, como todo dia, nem que seja feijão e arroz. Não consigo comer carne sempre, mas compro pescoço“, conta.
A segurança alimentar foi um termo criado pela Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN), que é o consumo regular de alimentos saudáveis e suficientes. Mas no Brasil 55,2% dos domicílios no final de 2020 estavam na zona da insegurança alimentar, que é a falta de acesso a uma alimentação adequada e condicionada.
Luana de Brito, é graduanda em Ciências Sociais (UFSC), ativista da saúde da população negra e sobre Soberania Segurança Alimentar e Nutricional, integrante da Rede de Mulheres Negras para Soberania Segurança Alimentar e Nutricional e Articulação de Organizações de Mulheres Negras (AMNB). Ela explica que o atual momento pandêmico, a crise política, econômica, social e ambiental, somados ao alto índice de desemprego e alta dos preços de alimentos, agravou e contribuiu para que pessoas ficassem na zona da insegurança alimentar. “Muitas pessoas se viram em momentos de escolher entre pagar uma conta de luz ou água e/ou comprar uma comida“, informa a Luana.
Os impactos causados pela insegurança alimentar são diversos e têm várias consequências, indo da saúde física e mental, segundo Luana. “Ela traz consequências graves na saúde da população, que podem desde acelerar a agravar a desnutrição, doenças em que a alimentação também afeta diretamente como a diabete, hipertensão,obesidade, anemia falciforme, pessoas que vivem com HIV/AIDS em terapia antirretroviral“, explica Luana.
Segundo a ativista, as crianças também sentem as consequências da insegurança alimentar e cita como exemplos o caso da professora, que sua aluna desmaiou de fome durante a aula, e o outro caso da criança indígena, do povo Yanomami, que morreu de desnutrição grave.
“Logo que teve início a pandemia do Coronavírus, as aulas nas escolas públicas de todo o Brasil foram suspensas e, com isso, as refeições nas escolas. Ao se depararem com a falta de alimentos em casa, mães de estudantes de escolas públicas, em sua maioria mulheres negras, começaram a se organizar para exigir que as cestas de alimentos do PNAE fossem distribuídas (estava correndo com falta de regularidade e qualidade)“, conta Luana.
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Projeto Social combate à insegurança alimentar em Salvador
“Foram 500 famílias beneficiadas com as cestas básicas” este é Rodrigo Coelho, cofundador da mídia comunitária Nordeste Eu Sou (NES), essas famílias compõem um grupo de 84,9 milhões de brasileiros que estão com fome ou em situação de insegurança alimentar, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).
Coelho conta que a iniciativa surgiu com 200 famílias iniciais, elas receberam cestas por 6 meses, somando mais 300 famílias na última distribuição do dia 18/12. “Fizemos distribuições durante todo ano, no total foram 500 famílias e digo que tem muita gente passando fome então esse trabalho de doar cestas é muito importante, através deste trabalho conseguimos reduzir um pouco esse estado de vulnerabilidade”, diz o cofundador do NES.
Cesta básica chega a mais de R$700 no Brasil
O Brasil chegou ao final de 2021 somando dois dígitos na inflação acumulada, de 10,42%, e isso reflete nos preços dos alimentos. O estudo mensal “Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos” do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), mostrou que o preço da cesta em Florianópolis é de R$710,53, seguido por São Paulo R$692,27 e na quarta posição o Rio de Janeiro com R$665,60.
O salário atual de R$1.100,00 não é suficiente para todas as despesas, de acordo com o DIESSE, o valor em 11/2021 teria que ser de R$5.969,17 para uma família conseguir viver “bem”, ficando assim na zona da insegurança alimentar.
Fatima Pereira também vive essa realidade, ela contou que é preciso ter prioridades ao ir ao supermercado/feira já que o salário que recebe de R$1.100,00 não é suficiente. “Eu como o que tem pra comer, uma mistura, feijão, arroz e ovo. No início do mês faço compra do grosso, quando acaba a gente se ajuda aqui no quintal. Nunca fico 1 dia sem comer, mas tem dias que como pouco”, diz Fátima.
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