Meta censura imagens de crianças Yanomami desnutridas por ‘nudez’ e ‘atividade sexual’

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Hospital de Campanha Yanomami

A rede Meta – que compila plataformas como Facebook e Instagram – passou a censurar imagens que retratam a situação de insalubridade vivida por crianças Yanomami desnutridas em Roraima. As plataformas estão bloqueando os conteúdos que denunciam o problema com a justificativa de propagação de “nudez” e “atividade sexual”, conteúdos proibidos pelas diretrizes da empresa.

Alguns portais jornalísticos que têm veiculado as atualizações da negligência estatal com o povo Yanomami estão tendo seus conteúdos removidos das plataformas. A exposição dos povos da etnia indígena é pautada pela Urihi Associação Yanomami, embora sirva para retratar as verdadeiras condições de vida dessas pessoas.

A Meta censurou várias fotos que denunciavam situação de fome dos indígenas – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Uma internauta contou ao Uol que teve sua postagem removida pelo próprio Facebook. “Compartilhei uma notícia denunciando o genocídio do povo Yanomami, mostrando as crianças indígenas desnutridas. O Facebook ocultou a publicação e me bloqueou porque, segundo eles, ela ia contra os ‘padrões da comunidade’, que aquela publicação tinha ‘atividade sexual’”.

A Urihi Associação Yanomami, que em janeiro deste ano divulgou a imagem de uma mulher idosa da comunidade Kataroa que faleceu de desnutrição severa, já havia se manifestado diante da viralização dessa e de outras imagens de indígenas Yanomami.

O fato de os registros terem tomado uma proporção internacional levou a um posicionamento de reprovação por parte da Associação. Segundo a organização, na cultura Yanomami, após o falecimento, não é pronunciado o nome da pessoa, e todos os seus pertences são queimados.

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O comunicado emitido pela equipe também enfatizou que o povo Yanomami não permitia o compartilhamento das fotos da idosa. A respeito das demais pessoas que estão recebendo o suporte da equipe do Governo Lula, a Associação disse:

“Estamos vivenciando uma crise humanitária, e sabemos que o governo se mobilizou buscando ações que ofereçam todo o suporte que a população necessita neste momento. É um momento triste, mas continuamos com toda força para que o povo Yanomami tenha sua dignidade de volta”.

Censura da cultura indígena

Há anos o Facebook tem censurado conteúdos que retratam a cultura dos povos indígenas. Em 2015, a imagem de uma mulher indígena do século XX com os seios expostos foi removida da plataforma e só retornou após intervenção do Ministério da Cultura, que sinalizou levar o caso para a Justiça.

Fotos de entidades como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e trabalhos de artistas também foram acusadas de infringir as diretrizes da rede social. Segundo a empresa, o bloqueio desse tipo de conteúdo, funciona como um recurso que busca combater a pedofilia e a pornografia infantil.

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Pablo Ortellado, professor do curso de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo, disse ao Uol que “é preocupante que as políticas da Meta não consigam separar pedofilia de denúncias da fome e da doença em comunidades indígenas (…) A Meta mais uma vez coloca seu interesse econômico acima do interesse público. E demonstra porque a regulação por parte do Estado é necessária”.

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