Aos 70 anos, a tocantinense Maria de Fátima Abade Barbosa viveu um momento histórico: apresentou seu Trabalho de Conclusão de Curso e se tornou a mais nova licenciada em Educação do Campo – Artes pela Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT). Mulher preta, filha de quebradeira de coco babaçu e marcada por décadas de exclusão escolar, ela transformou a própria trajetória no tema da pesquisa.
A monografia, orientada pela professora Iara Rodrigues da Silva, recebeu o título “Nunca é Tarde para Aprender: A história de vida de uma mulher preta que foi excluída do processo educacional de ensino”. No trabalho, Maria de Fátima resgata sua infância no campo, o trabalho árduo ao lado da mãe e a vivência de mulheres negras e camponesas que lutam diariamente pelo direito à educação.

A banca avaliadora, composta pelas professoras Lindiane de Santana e Mara Pereira da Silva, destacou o caráter histórico do texto. Para elas, o memorial é “um documento de força, liberdade e resistência”, representando não apenas a autora, mas a trajetória coletiva de mulheres negras que reinventam seus caminhos apesar das barreiras estruturais.
A defesa emocionou servidores, colegas e visitantes, muitos já conheciam a protagonista graças à repercussão nacional de suas histórias recentes. Em 2024, ela viralizou ao viajar do Tocantins ao Rio de Janeiro para realizar o sonho de assistir ao desfile da Portela. Também ganhou destaque ao economizar e viajar ao Paraguai para comprar o saxofone que sempre desejou.
LEIA TAMBÉM: Apenas 15% das mulheres negras e 11% dos homens negros têm diploma, diz estudo
A história de Maria de Fátima, porém, é marcada também por perdas e dificuldades. Forçada a abandonar a escola na infância, trabalhou como empregada doméstica e enfrentou situações de extrema vulnerabilidade. A maternidade solo e a morte da mãe a afastaram ainda mais dos estudos. A retomada só veio décadas depois, quando acompanhava o filho diariamente na escola.
Agora formada, Dona Fátima se prepara para exercer a docência e deixa um legado que ecoa dentro e fora da universidade: educação é direito, resistência e recomeço, e nunca é tarde para reivindicá-la.










