A rede de supermercados Carrefour realizou o evento “Diálogos que Transformam”, na última quarta-feira (10). De forma virtual, mostrou as ações realizadas em combate ao racismo pelo grupo e foi debatida a importância da luta antirracista no país. Apresentado pelos jornalistas Manoel Soares e Rita Batista, a ação exibiu o desejo de mudança da empresa.
Logo na abertura, Manoel contou a sua história com o supermercado, que começou quando foi morador de rua em um viaduto, próximo a filial do grupo em Porto Alegre, e depois ao comprar uma casa no bairro. Esta loja é a mesma em que João Alberto Freitas foi assassinado por dois seguranças. De acordo com ele, foi o lugar onde comprou a primeira lata de leite do filho e teve essa imagem deturpada, “Não estamos passando pano ou limpando a barra do Carrefour, mas sim ajudando a mudar essa realidade e não é de graça. A empresa deve fazer sua parte”, comentou o jornalista e apresentador.
A cerimônia mostrou que o grupo Carrefour contratou nos últimos meses 110 mil funcionários negros em todo o Brasil e, junto com o Comitê Externo Independente (CEI), busca a equidade de afrobrasileiros em cargos de lideranças. A empresa anunciou que todo o seu sistema de segurança é interno, ou seja, do próprio grupo, e que esses contratados passaram por um treinamento humanizado junto com 100% dos funcionários que tiveram capacitação de letramento racial.
Rita e Manoel fizeram em um momento do evento online, um bate e volta de palavras com conotação racista. Entre elas estão: criado mudo, denegrir, lista negra, inveja branca, feito nas coxas, samba de crioulo doido e doméstica. Também foram apresentados os significados desses termos e o porquê não devem ser utilizados. Os jornalistas disseram que falar só não resolve nada e a educação é o caminho da mudança.
O evento teve a participação de personalidades negras como Margareth Menezes, Silvio Almeida, Preto Zezé, Adriana Barbosa e Celso Ataíde. Alguns fazem parte do Comitê Externo Independente (CEI), criado pelo Carrefour como parte de ações para o combate do racismo dentro da organização.
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Mudanças internas
Em uma entrevista exclusiva ao Notícia Preta, Chantal Pillet, diretora executiva de Compliance do grupo Carrefour informou que o todos no grupo aprenderam muito nesses últimos meses e nenhum passo atrás poderá ser dado.“Aprendemos muito nesse último ano e agora é tolerância zero mesmo. Não aceitamos discriminação dentro da empresa e medidas disciplinares sempre serão impostas. Além do letramento, estamos criando um aculturamento antirracista”, comenta.
Ela lembra ainda que o canal de denúncias do Carrefour Funciona desde 2003 e que no último ano a empresa reforçou as estratégias de combate ao racismo. “Nosso intuito é realmente reforçar o combate ao racismo e, par isso, conseguimos mobilizar outras empresas para estarem juntos nessa luta”, afirmou.
Cristiane Lacerda, diretora de RH do grupo Carrefour ressaltou ainda que existe uma cláusula antirracista nos contratos com fornecedores para que os prestadores de serviço também tenham esse pensamento antirracista. “Estamos aparados juridicamente se houver alguma denúncia de que fornecedores nossos tenham comportamentos racistas”, finaliza.