Uma pesquisa feita pela Associação Nacional de Assistência aos Superendividados (Anas), que segundo a Lei 14.181/2021 é o cidadão que compromete mais do que 35% da renda mensal com o pagamento de empréstimos e dívidas de consumo, revela que sete em cada dez superendividados brasileiros têm renda entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. O Notícia Preta conversou com a especialista em finanças Patricia Marins, que aponta os que costumam ser mais atingidos.
“Os superendividados geralmente são indivíduos cujas dívidas ultrapassam a capacidade de pagamento, mesmo considerando apenas as despesas básicas para a sua subsistência. Dentro da população negra, essa situação é particularmente grave devido às barreiras econômicas e sociais. Eles frequentemente precisam de renegociações ou programas de auxílio para tentar equilibrar suas finanças“, explica Patricia.
Além disso, a especialista faz um alerta sobre os principais vilões financeiros que levam as pessoas a chegarem nesse quadro.
“As principais armadilhas financeiras incluem o uso excessivo do cartão de crédito, que acumula dívidas rapidamente devido aos altos juros; empréstimos, falta de planejamento financeiro, que leva a gastos superiores à renda; compras a prazo, que podem sobrecarregar o orçamento mensal; e o refinanciamento de dívidas, que prolonga o endividamento e aumenta os custos totais com juros”.
A pesquisa confirma isso. Os dados mostram que o cartão de crédito é responsável por 63,6% das causas de endividamento das pessoas ouvidas. Já o crédito pessoal representa 59,74%, seguido pelo consignado (32,39%).
Para a especialista essas armadilhas são especialmente prejudiciais para a população negra, que frequentemente tem acesso limitado à educação financeira e enfrenta desigualdades econômicas persistentes devido ao racismo estrutural existente no Brasil.
Em junho, a Anas entrevistou 2.396 pessoas de diversas regiões do país e descobriu que a maioria dos superendividados tem renda de até 5 salários mínimos. Contudo, pessoas com rendas mais altas também são afetadas: aproximadamente 17% dos superendividados têm ganhos entre R$ 5 mil e R$ 10 mil, enquanto 13,69% recebem mais de R$ 10 mil por mês.
A economista também fala sobre os desafios que as mães solo enfrentam no que diz respeito ao endividamento excessivo.
“Elas muitas vezes têm que lidar com múltiplas responsabilidades financeiras sem o suporte de um parceiro, o que agrava suas dificuldades econômicas. Acessar crédito com juros altos, o uso intenso de cartões de crédito, a falta de planejamento adequado e a tentação das compras parceladas são algumas das principais armadilhas que contribuem para o endividamento”, declara ela.
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