Entidade denuncia subnotificaçãos de casos da Covid-19 na periferia de Salvador

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Segundo relatório elaborado pelo Comitê Comunitário Virtual de Monitoramento das Ações de Enfrentamento da COVID-19, 63,7% dos casos confirmados estão localizados em bairros empobrecidos.

Ato simbólico no cartão postal, Farol da Barra. Foto: Lucas Barbosa

O Farol da Barra, cartão postal de Salvador, foi escolhido para um ato simbólico que denuncia as fragilidades que as populações vulneráveis estão expostas durante a pandemia. A atividade é uma realização do Comitê Comunitário Virtual de Monitoramento das Ações de Enfrentamento da COVID-19 nos Bairros Populares de Salvador, que respeitaram o distanciamento social na última quarta-feira (10), ao levantar faixas e fixar cruzes que representavam as mortes pela covid-19.

De acordo com o relatório “A Distribuição Espacial do Coronavírus nos Bairros de Salvador – 14 de março a 02 de junho”, elaborado pelo Comitê, os números de casos confirmados e a taxa de incidência (risco) de contaminação nos bairros empobrecidos cresce diariamente. Nesse período, Salvador registrou 10.561 casos confirmados do COVID-19, destes 63,7% estão localizados em bairros empobrecidos, 27,3% em bairros de classe média e 9% em bairros de classe média alta.

Para Zezé Pacheco da Comissão Pastoral das Pescadoras e Pescadores
(CPP), que integra o Comitê, é importante que haja transparência na entrega dos dados, além de territorialização das mortes e que haja informação de raça/etnia.

“A prefeitura de Salvador não tem sido transparente. A pouco tempo os dados saiam, o que a gente achou um absurdo, só no Instagram do secretário de saúde, em uma clara falta de cidadania. Não estava no canal oficial da prefeitura. E ainda agora esses dados são incompletos, não estão por questão racial, em um estado com mais de 80% de negros. A gente precisa ter uma clareza maior do número de pessoas que estão notificadas, é um número que está extremamente subnotificado. E a gente também não tem os dados de morte por bairros para poder fazer uma comparação. Nós tivemos os dados extraoficiais que mostram dados preocupantes que mostra que está morrendo mais em bairros populares”, afirmou Zezé Pacheco.

Zezé Pacheco ainda alerta que a população mais carente da capital baiana está vulnerável, ainda, por outras doenças e a falta de atendimento básico. Para ela, é uma população que já sofre por falta de atenção à saúde, que tem situações de comorbidades e grande parte sem a segurança alimentar e nutricional garantida, em condições de moradia muitas vezes precárias e com muitas pessoas em casa sem as condições adequadas para cumprir a quarentena, por isso seguem mais vulneráveis.

“Também quando as pessoas procuram as UPAs (Unidade de Pronto atendimento) a situação já está agravada e também as pessoas que estão precisando de hospital para outros problemas de saúde, estão morrendo por não conseguirem acesso à saúde. A gente tem precisado acionar a Defensoria Pública para poder pessoas com outras doenças terem acesso ao atendimento como UTI e serviço de saúde essencial. Paralelamente a covid-19 está um absurdo a explosão de casos de chikungunya, dengue, zika e isso agrava a situação da população”, completa Zezé.

Considerando os registros oficiais até o início de maio de 2020, houve o aumento de 741,5% dos casos de chikungunya, 407% para a zika e 169,7% para a dengue, na capital baiana. A prefeitura de Salvador intensificou ações para combate ao mosquito transmissor aedes aegypti.

Desde que a Organização Mundial de Saúde decretou estado de pandemia (11 de março) e do início da quarentena em Salvador (18 de março), o Comitê Comunitário Virtual de Monitoramento das Ações de Enfrentamento da COVID-19 nos bairros populares de Salvador vem atuando no sentido de monitorar os dados, mobilizar e articular lideranças e moradores/as de Salvador, universidades e demais setores para assumir um papel de maior protagonismo no enfrentamento do novo coronavírus.

O Comitê é um coletivo formado por moradores de bairros populares, como membros de associações de moradores, ativistas de movimentos sociais e de entidades de profissionais de saúde, que se reúnem para levantar as necessidades e demandas dos bairros para os gestores, além de apoiar e monitorar as ações efetivas preconizadas pela OMS. O grupo defende que a prefeitura de Salvador adote medidas como teste em massa, divulgação constante de dados por bairros, gênero e raça/etnia, para assim assegurar que recursos de prevenção, controle, diagnóstico e tratamento cheguem às pessoas que precisarão, evitando assim, que as mortes atinjam desproporcionalmente a população negra e pobre de Salvador.

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