“Esse enredo foi feito a partir do olhar indígena”, diz Igor Ricardo, enredista do Salgueiro

Snapinsta.app_418731156_18402296314038670_1487719090561538196_n_1080.jpg

A escola carioca Acadêmicos do Salgueiro, nove vezes campeã do Grupo Especial do carnaval do Rio de Janeiro, vai levar para avenida este ano enredo ‘Hutukara’. O título, que na língua yanomami significa “o céu original a partir do qual se formou a terra”, é uma homenagem aos indígenas, em especial os Yanomami, que vivem na maior Terra Indígena do país.

O Notícia Preta conversou com o enredista da escola Igor Ricardo, para saber os detalhes da construção do enredo. “A gente tem um enredo que é o tempo inteiro subsidiado pelo olhar do indígena. Esse enredo foi feito a partir do olhar indígena. Por isso foi muito importante a gente ter o tempo inteiro Davi Kopenawa, importante liderança Yanomami, do nosso lado. Até mesmo por essa questão da invasão dos garimpeiros”, declara ele.

Agremiação homenageia o povo yanomami /Foto: Reprodução Instagram

A escola vai contar a história da “invasão ao Brasil”, e de como o homem branco tentou apagar os povos indígenas que já habitavam o país. Além disso, o desfile da escola vai reforçar a importância da luta pela defesa da Amazônia.

“Os Yanomami, ele tem uma, uma licença poética, vamos dizer assim, para falar sobre essa invasão indígena. Eles acreditam que o que o homem branco, que o garimpeiro chega lá na terra deles a partir do rio ASI, que é um deus da morte para eles que acreditam no Omama, que é o deus da criação”, conta Igor.

O enredista destaca a importância do tema que o Salgueiro vai contar. “Kopenawa conta não conhecemos o povo Yanomami, “a gente conhece apenas o lado da tragédia que a gente vê todos os dias no noticiário”, afirma ele, que continua:

“Só que esse noticiário que a gente assiste não é o povo Yanomami. Quem produz é o homem branco, homem branco que vai lá para a terra deles atrás desses metais preciosos, levando essas doenças, levando essa morte. Então é o homem branco que produz aquela tragédia. Então, a missão do Salgueiro com esse enredo é a gente mostrar de fato quem é esse povo“, pontua Igor.

Ele também critica a forma como os povos originários são generalizados, e afirma que cada povo tem a sua particularidade.

“O povo Yanomami é diferente do povo matis, do Tupi-Guarani e a gente tem que passar a entendê-los dessa forma, de que cada um deles tem a sua particularidade e de que cada um deles precisa ser respeitado como eles são. Então, a importância do enredo do Salgueiro do Carnaval 2024 é justamente essa. E que a gente possa olhar o povo indígena a partir do que eles são verdadeiramente, não sobre estereótipos que o povo da capital, construiu ao longo de todos esses anos”.

Leia:Camarote Casa de Gana leva cultura africana para carnaval de Salvador, com programação gratuita

Deixe uma resposta

scroll to top