Após refletir sobre os protestos e como a população mais carente, pobre e negra das favelas, pode ser mais prejudicada com as aglomerações, o rapper foi orientado a ler mais por internautas brancos
O rapper Emicida não vai ao protesto antirracista marcado para o próximo domingo (7) na Avenida Paulista, em São Paulo e usou as redes sociais para explicar a decisão. Em vídeo publicado na sua conta oficial no Twitter, Emicida pediu cautela aos manifestantes e questionou o poder de organização das ações neste momento. No entanto, a reflexão do artista causou incomodo em internautas que passaram a atacá-lo e até questionar o conhecimento para analisar a conjuntura socioeconômica e racial do Brasil e do mundo.
Em um dos trechos do vídeo Emicida aponta que as manifestações são legítimas, mas evidencia que os negros residentes nas periferias são os mais vulneráveis no processo social.
“A irresponsabilidade e a irracionalidade de quem tinha que conduzir esse país para um lugar melhor ainda vai matar muita gente. O contágio não chegou no seu máximo ainda, pensa nisso. Qualquer aglomeração agora, por mais legítimos que sejam nossos motivos, é pular na ciranda da necropolítica e levar uma onda de contágio pior do que essa que já está dentro das comunidades onde vive quem a gente ama. Isso é parte do plano deles. O que eu estou dizendo? Que é fácil, engole seco, chora em casa? Não mano, mas pensa no contexto, pensa comigo, analisa o número de casos, olha para a realidade, é isso que eles querem. Está morrendo um brasileiro por minuto e a gente está falando só de covid-19 e a tendência é aumentar”, argumenta o artista que cita o conceito de necropolítica do intelectual camaronês, Achille Mbembe.
Emicida ainda lembrou as manifestações de 2013 e pediu que houvesse organização e políticas de enfrentamento ao racismo estrutural. “Hoje nós não temos organização para isso hoje não, manifestação não é micareta. Quem acha que a estrutura racista do Brasil vai ser desligada como se fosse um interruptor está viajando na maionese. Precisamos de uma construção, um projeto, uma coalizão em torna de algo, sacou? Não dá para pegar uma hashtag e achar que ela é um escudo, não funciona. A gente já viu vários infiltrados, 2013 foi ontem. Parece que vocês não aprenderam nada. Quem se f*** em 2013? Rafael Braga”, lembra o artista.
Diante do debate que o vídeo causou, o artista foi elogiado por alguns e criticado por outros. No entanto, internautas brancos sugeriram que Emicida não sabia o que estava falando, xingaram a postura do cantor e alguns afirmaram que deveria ler mais. Uma das sugestão foi o livro da filósofa e economista marxista polaco-alemã, Rosa de Luxemburgo, indicado por uma seguidora.
A ativista e intelectual, Rosa de Luxemburgo, fundou a Liga Spartakus, organização socialista, anti-imperialista e anti-militarista que posteriormente, deu origem ao Partido Comunista Alemão. Mas, diferente do filósofo, teórico político, historiador, intelectual e professor universitário camaronês, Achille Mbembe, citado por Emicida, não tinha o seu trabalho debruçado em questões raciais. Com isso, a indicação causou descontentamento de outros internautas e ativistas, que consideraram a atitude da jovem uma forma de desqualificar o conhecimento de um homem negro.
Emicida questiona o racismo nos veículos de comunicação
O rapper Emicida aproveitou a argumentação sobre as manifestações e a justificativa de não ir nos atos para apontar o racismo estrutural, que agrega o racismo institucional, dos meios de comunicação hegemônico.
“Pensa aí, quando os infiltrados arrastar o barato, o jornalzão vai escrever o que? Que foram os infiltrados? Que colaram deslegitimando uma pauta legitima porque agora o Brasil quer se livrar das chagas do racismo? Aonde mano, aonde? Vai pisar no acelerador para botar fogo em uma sociedade que é racista, conservadora, passional, para odiar você ainda mais e justificar atitude ainda mais autoritária e a gente sabe em que lugar e com que tipo de pessoa o sistema brasileiro faz a sua arbitrariedade alcançar níveis máximos e por isso eu falo, fiquem atentos. Para fazer alguma coisa a gente precisa estar organizados e eu não estou vendo isso”, dispara o artista.
Momento de deixarmos os interessados de mostrarem de que lado estão, pois afinal SEMPRE LUTAMOS E MORREMOS POR LIBERDADE. Como diz Conceição: e”combinaram de nos matar e nós combinamos não morrer”. FICA EM CASA