Por Jorge Santana, Historiador, Doutorando em Ciências Sociais ( UERJ) @jorgesantana_sg
A pandemia que se apresenta assim como o isolamento social já é por si só aterrorizante. Sem contar que no Brasil, ainda temos o assombro, as ameaças neofascistas que rondam a jovem república brasileira. Não queria falar sobre mais um assassinato de um negro pela polícia nos Estados Unidos, mais um que tombou diante das câmeras e dos pedidos para que o policial parasse de mata-lo. Enfim a revolta é maior do que minha vontade não falar sobre essa temática.
As chamas da delegacia de Minneapolis não trazem a volta a vida de George Floyde. Contudo acalentam nossos corações de que o assassinato brutal desse afro-americano não passará em vão. No Brasil não assistimos aos irmãos negros que são cancelados pelo Estado. Só sabemos quando vemos o corpo deles cravados por balas de fuzil no telejornal de meio-dia. É isso mesmo, você que não é brasileiro, nós almoçamos assistindo um telejornal que exibe corpos negros assassinados.
A crueldade do genocídio dos negros no Brasil é mais violenta do que na América do Norte, porém a ianque tem mais sadismo. O vídeo de cinco minutos em que o policial branco norte-americano mata o nosso irmão negro é de extremo terror. Está ali, em pleno século XXI um policial asfixiando com o joelho um cidadão norte-americano, com um olhar de deleite e um sorriso tímido de alegria. Enquanto, Floyde dizia quase como um sussurro “ Não consigo respirar”.
O racismo é um problema do branco, é que ele não aceita que pessoas com mais melanina sejam iguais a ele. Contudo, o branco sempre se esforça para tomar aquilo que foi criado pelos negros. São inúmeros brancos que se esforçam e conseguem tocar jazz como tivessem nascido em Nova Orleans. São muitos brancos que passam meses morando na Jamaica para aprender como tocar o reggae. São incontáveis os brancos que desejam tocar samba, serem ritmistas de escola de samba e por aí vai. Não há problema em brancos praticarem a cultura negra, mas alguns o fazem porquê acham um absurdo o negro ser protagonista daquilo que eles consideram belo.
Mas tem uma coisa negra os quais eles não conseguem ser, tomar, aprender ou roubar. O corpo negro eles não podem ter, ser ou roubar. Diante dessa impossibilidade de ter eles preferem matar o corpo negro, pois inerte, sem vida, sem pulsar ele deixa de ser um incômodo. O corpo negro incomoda o branco, não podendo tornar-se negro a única solução é matar o negro. Conseguem matar fisicamente, mas não conseguem resolver o problema do racismo que lhes é pertinente . Não tomaram o corpo de Floyde e nunca tomarão nenhum corpo negro.