Nesta sexta-feira (15) é comemorado o Dia Nacional da Umbanda, data que foi estabelecida formalmente por meio da Lei nº 12.644 de 2012, sancionada pela presidente Dilma Rousseff. Em entrevista ao Notícia Preta, Mãe Flávia Pinto, que é socióloga, escritora e matriarca da Comunidade de Terreiro Afroindígena Casa do Perdão, explica que a data faz referência ao dia 15 de novembro de 1908, sacramentado a partir da iniciativa de Zélio de Moraes, que fez esse registro por conta da manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas e de Pai Antônio. Mãe Flávia considera o registro importante, mas destaca que a Umbanda nasceu muito antes disso.

“Esse registro é muito importante pois ele faz uma historiografia dessa religiosidade. Porém nós sabemos que não é exatamente ai que a Umbanda nasce. Ela nasce muito antes. Nas senzalas, dentro da fusão dos quilombos e da interação dos povos indígenas onde havia manifestação de ancestrais, chamados mais popularmente de entidades“, explica.
Assim a autora de livros como “Umbanda religião brasileira: guia para leigos e iniciantes” e “Umbanda Preta: raízes africanas e indígenas” continua explicando o processo de nascimento da religião que afirma ser genuinamente brasileira.
“Ela nasce da fusão cultural que o processo de dominação, invasão do território brasileiro, chamado equivocadamente e romanticamente de colonização, faz com a mistura dos povos indígenas e o tráfico negreiro que trouxe a população negra para esse país. A junção dessas culturas mais a religiosidade do dominador, ou seja a religião cristã, fez com que nascesse a umbanda“.
O surgimento oficial da religião, a partir do marco histórico, acontece 20 anos após a abolição da escravatura no Brasil, que aconteceu em 13 de maio de 1888. De acordo com Mãe Flávia, apesar da matriz africana e indígena a religião foi oficialmente criada por um “homem branco, hétero, “cristãos” e de classe média filho de militar“, conforme ela mesmo aponta, mas a escritora pontua que na época em que aconteceu, isso tornou o processo mais “fácil” por conta do processo histórico.
“Naquela época não seria aceito uma pessoa negra, que até 20 anos atrás era escravizada, fundar uma religião. O preconceito que nos acompanha hoje era ainda mais forte naquele período. Também não seria aceitável que uma pessoa indígena criasse um credo religioso“, explica.
Mas esse surgimento foi muito benéfico para a população negra e periférica, de acordo com Mãe Flávia, por preencher desde aquela época, algumas faltas deixadas pela sociedade e pelo Estado, por conta da desigualdade. Flávia Pinto conta que eram as rezas e os conhecimentos da medicina ancestral de pessoas negras e indígenas que ajudavam essas pessoas, e ajudam até hoje.
Além disso, nesta data em que se comemora a religião apesar dos altos números de preconceito religioso, Mãe Flávia ainda pontua que as entidades da religião são em sua maioria, de grupos marginalizados e perseguidos pela sociedade. “Os negros, os indígenas, os ciganos, os cangaceiros, os marinheiros, as prostitutas…A umbanda é uma religiosidade inclusiva“, afirma.