Nessa segunda-feira (29), o rapper paulista Dfideliz disponibilizou o EP nas plataformas digitais. “Essa minha vida bandida” conta com participações de, entre outros artistas, Mc Luanna e Luccas Carlos. O EP contém 9 faixas repletas de reflexões sobre a realidade dos jovens negros no Brasil e a cultura urbana, em especial sobre crime, consumo e prestígio social.
5 anos após seu primeiro EP, “Reflexões“, o membro do coletivo Recayd Mob lança o projeto cinco meses depois de entrar para a gravadora Mainstreet Records. O único lançamento do artista pela gravadora até o momento tinha sido a música “Alma Limpa”.
Dfideliz começa o lançamento com a faixa “Faço Dinheiro”. A música é direta e honesta em sua proposta, falando sobre ascensão social. Caracterizada pelo contraste usual em vários traps, a melodia mais triste e melancólica cria um contraste com a percussão agitada e violenta como parte da mensagem. O artista fala sobre o conforto que o dinheiro trás, mas sem deixar de mencionar dificuldades, o esforço necessário e a violência envolvida.
No dia da estreia do EP, “Casaco de Grife” já teve seu videoclipe disponibilizado. Com participação de Leviano, a faixa é uma exploração de um dos temas mais frequentes no trap: a relação entre poder e prestígio. Essa relação é exemplificada por um indivíduo que só é bem visto depois de comprar roupas da moda com dinheiro que ganhou no tráfico.
O dinheiro e a fama são formas desse poder. O artista descreve como quem não tem acesso a oportunidades de alcançar bens materiais e status se sente ressentido e inferiorizado. A busca por se empoderar pode então passar por formas violentas e criminosas. Também se ressalta o sexo como uma reafirmação da masculinidade, que também é um outro espaço de poder.
A sexualidade é um tema forte em “Twerk”, faixa com participação de Luccas Carlos. A música faz a conexão entre a tranquilidade que a ascensão social traz com outros elementos que caracterizam um certo prestígio social. Ter acesso a bens materiais, drogas recreativas e ser considerado atraente pelo sexo oposto são questões apresentadas na música.
Por outro lado, “Intriga” trata de temas mais pessoais de relacionamentos, como infidelidade, inseguranças e as dificuldades de se relacionar honestamente com outra pessoa. Mc Luanna contribui pro EP com rimas sobre uma situação extremamente frequente de uma mulher que se sente enganada e desvalorizada pelas atitudes de seu companheiro. A reação é ferir pra não ser ferida, afastar pra não ser abandonada.
As respostas de Dfideliz nesse cenário também contém fragilidades, desviando de sua parcela de culpa nos problemas no casal. Entretanto, a saída apontada no final na música indica uma possibilidade de uma solução através de uma conversa com maior honestidade.
A quinta música, “Preto Rico 2”, é a continuação de outra canção que foi lançada em 2018. A primeira parte discute principalmente a relação entre desigualdade social, crime, dinheiro, autoestima e prestígio. A segunda parte, com um tom mais sombrio, aprofunda o mesmo tema, acrescentando a polícia como representante de um sistema que serve para impedir a ascensão econômica e o empoderamento de pessoas negras.
“Meia Noite”, com participações de MC Joãozinho VT e Menor MC, retorna ao tema dos relacionamentos amorosos e seus desafios, mas através de um outro cenário. A música começa relatando como uma relação mesmo já encerrada mantém resquícios emocionais. Depois relata um casal se conhecendo e começando a se relacionar, apontando desconfianças e resistências que atravessam os sentimentos românticos.
Apresentando um instrumental menos convencional do que as demais faixas, “Vodu” é uma música sobre responsabilidade. No refrão, Dfideliz usa de figuras religiosas de matriz africana para ilustrar um sentimento de ciúme. Entretanto, a mensagem principal da música está nas atitudes descritas nos versos. Estar preocupado com a própria segurança, assim como das pessoas ao seu redor, ser disciplinado, não desperdiçar recursos sem antes garantir o suporte para aqueles que te deram apoio e agir com sagacidade para alcançar seus objetivos.
As participações de Azevedo e SV vem em música que descreve uma nostalgia que retrata o lado solitário da ascensão econômica e social trabalhada em diversas outras faixas. Em “Sinto Mó Saudade”, os artistas elaboram o sentimento de pertencimento e união que surge das situações de dificuldade enfrentadas pelos moradores de favelas e comunidades.
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“Grato a Deus” é a faixa mais otimista do EP, demostrando uma visão positiva sobre o passado, o presente e o futuro de Dfideliz. Para além da religiosidade, o rapper apresenta uma gratidão a uma coletividade que permitiu a ele superar as adversidades e os desafios de um sistema injusto. Ele atribui o sucesso aos indivíduos que deram apoio a ele em sua caminhada e acena a uma próxima geração para que siga esses exemplos e não pense de forma egoísta.