“Minha hora de descanso era trabalhando”, lembra chef Deia Lopes – Rainha da Tapioca

WhatsApp-Image-2022-05-24-at-10.11.01.jpeg

Filha caçula entre as meninas, entre treze irmãos, a baiana Deia Lopes sempre teve que enfrentar muitos obstáculos não apenas na cozinha, mas também na vida. Seu pai, mestre de obras, sempre trabalhou e viajou muito para São Paulo e raramente ela o via na infância. O espírito empreendedor nasceu por uma necessidade e muita força de vontade. Assim pode ser classificado a busca pelo sonho de ter a própria empresa.

“Meu pai sumia por dois, três anos, sempre foi assim, entretanto, a lembrança que tenho dele é que quando ele aparecia nós conseguíamos ter três refeições no dia (café, almoço e jantar). Nesses períodos, minha mãe precisava alimentar a família, ela preparava, torrava e vendia amendoim na rodoviária de Ubaitaba todo santo dia. Acredito que minha veia empreendedora surgiu através dessa cena, de uma mulher forte e aguerrida” lembra Deia.

Atualmente, a Toca da Tapioca possui mais de 30 variações de sabores – Foto: Arquivo Pessoal

Depois de desentendimentos familiares, Deia se muda para São Paulo e começa a trabalhar como babá em uma casa e tinha apenas duas folgas no mês. Pouco depois, ela teve o primeiro filho e deixou o emprego de babá. Foi quando começou um circulo de trabalho, realizando faxinas, monitoria em shoppings, etc. Ela resolveu voltar para Bahia, onde começou trabalhar no ramo da gastronomia, trabalhando em um hotel. Neste lugar, ela foi trabalhar ao lado de um chef que, como ela mesma diz, “foi um verdadeiro professor”.

Leia também: Lewis Hamilton receberá título de cidadão honorário do Brasil, na próxima segunda (07)

Ela, então, com o passar do tempo e mostrando versatilidade, assumiu o papel de chef. Paralelamente a isso, ela trabalha em um segundo local vestida de baiana fazendo tapioca para hóspedes em um outro hotel. “Minha hora de descanso foi trabalhando. Não queria que meu filho passasse nada que remetesse ao que tive em minha infância, por isso, qualquer horariozinho vago colocava algum trabalho”, comenta.

Morando em Serra Grande, a 270 quilômetros de Salvador, inicialmente, Deia foi viver em uma pousada com seu filho, mas o custo era alto para os padrões econômicos dela. Foi quando buscou na tapioca um meio para dar uma guinada em sua vida em busca do próprio negócio. Ao lado de uma sócia, que após três meses sai, inaugura a Toca da Tapioca. Com o sucesso do negócio, resolve expandir, porém, a falta de dinheiro poderia ser um empecilho para alguns, não para a empreendedora.

“Comecei a complementar os utensílios da obra com comida. A laje do restaurante estava custando seis mil reais troquei por várias e várias feijoadas, já o bambu do nosso espaço ficava em torno de dezoito mil, consegui abater o valor através da realização de eventos por quase dois anos”, explica Deia.

Discos de tapioca na pandemia

A tapioca, ou goma, é uma iguaria extraída da mandioca, macaxeira ou aipim, dependendo da região. No entanto, todas as nomenclaturas são para a mesma raiz. Deia, aproveitando sua criatividade e as possibilidades que a raiz proporciona, e também as dificuldades de alimentação durante a pandemia da Covid-19, resolveu abrir um delivery de tapioca na região e foi o que fez a Toca da Tapioca sobreviver às restrições sanitárias do ano de 2020, principalmente.

“Todo o dinheiro que estava guardando acaba e volto a trabalhar sozinha na Toca da Tapioca. A partir disso, sinto toda a minha história voltando, não era a dor de perder tudo, mas ficar em dúvida se conseguiria batalhar tudo outra vez”, revela.

Porém, durante uma ida ao supermercado, viu alguns pacote de “Rap 10” na sacola de uma mulher e teve o estalo de fazer discos de tapioca para vender. “Passei mais de uma semana testando os discos, comprei embalagens no Mercado Livre, botei à vácuo, mandei para dez clientes, que são empresários, em Serra Grande e dois deles me ofereceram sociedade. Com isso, peguei um empréstimo pequeno e comecei a comercializar o produto dentro de dezesseis mercados locais”, conta.

Por ser um conteúdo artesanal, o período de armazenamento chega, no máximo a 18 dias. Pensando em expandir seus produtos, Deia descobriu o processo de ultracongelamento, que aumenta a durabilidade dos discos de tapioca. Além disso, ela também espera aumentar as entregas em outros locais, que não a Bahia.

Foto: Arquivo Pessoal

“Estamos muito confiantes em inaugurarmos uma casa de produção exclusivamente para nosso produto, o disco de tapioca ultracongelado, pioneiro no mercado. Já estamos com ele rodando pela Bahia e nossa meta é atingir outros estados como São Paulo, onde já estamos conseguindo espaço, Goiás, além disso, muito em breve realizar o lançamento da nossa franquia”, revela.

“Não importa de onde você veio e o que te disseram, o mais importante é você saber quem você é e aonde quer chegar. Foco, persistência, determinação e avante para conquistar os objetivos”, finaliza.

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

Deixe uma resposta

scroll to top