A família informa que não existe uma estrutura adequada na unidade para identificação de corpos, o que pode ter ocasionado o problema. Há 3 dias a família tenta encontrar e enterrar o corpo de Arlete Santos
Familiares de Arlete Santos dos Reis, de 43 anos, vítima da covid-19, denunciam a troca de corpos no Hospital Espanhol, na capital baiana. Arlete foi diagnosticada com a doença causada pelo novocoronavírus (covid-19), e faleceu na última segunda-feira (01), no Hospital Espanhol, em Salvador. No entanto, quando a família chegou para retirar o corpo a unidade apresentou o de outra pessoa.
A direção do hospital confirmou a troca dos corpos e disse que houve falha humana na conferência da etiqueta, por parte do hospital, e apontou equivoco no reconhecimento do corpo por parte da outra vítima. No entanto, segundo Jairo Santos, irmão de Arlete, o hospital não possui uma sala para reconhecimento do corpo e é frequente que os funcionários lidem diretamente com as funerárias, o que pode facilitar a troca dos corpos.
“Não tem sala de vidro, não tem nada. Só um contêiner do lado de fora onde colocam os corpos. Muitas famílias nem chegam lá para reconhecer. Os funcionários das funerárias que vão lá pegar os corpos”, afirmou o irmão de Arlete, Jairo.
A família diz não ter certeza se Arlete está morta ou se continua internada na unidade, já que há três dias não recebe o corpo para o enterro. De acordo com o Espanhol, o corpo de Rosângela, a mulher que deveria ter sido sepultada pela outra família, segue na unidade e só poderá ser liberado após a identificação do corpo de Arlete, que pode ter sido enterrada no lugar de Rosângela.
Para o irmão de Arlete, Jairo Santos, o corpo enterrado pelos familiares de Rosângela será exumado ainda na tarde dessa quinta-feira (4), no Cemitério de Portão, e Lauro de Freitas. O procedimento é acompanhado por um oficial de Justiça, mas a família clama por celeridade. Ontem, quarta-feira (3), a família chegou ao Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), em Salvador, às 8h, onde permaneceram até depois das 20h. São mais de 12h de espera para que o corpo da vítima enterrada fosse exumado.
Em nota, o IML informou que o diretor, Mário Câmara, recebeu nesta manhã uma decisão judicial autorizando, com urgência, a exumação do corpo sepultado no Cemitério de Portão, em Lauro de Freitas. A ordem judicial foi emitida pelo juiz Gilberto Bahia de Oliveira, que considerou a situação “de muita gravidade”.
Na manhã desta quinta-feira cerca de 20 familiares de Arlete chegaram à frente do Hospital Espanhol, por volta das 10h, onde aconteceu um protesto pedindo explicações. No inicio da tarde, eles foram ao IML, onde seguem aguardando a chegada do corpo exumado para perícia.
Em nota, o Hospital Espanhol informa que houveram falhas e estaria dando suporte às famílias. “Existe um protocolo seguindo todas as normativas de segurança para que não ocorram incidentes como este. Neste caso específico, do reconhecimento do corpo da Sra Arlete dos Santos Reis, houve falhas humanas, nas duas etapas – tanto na conferência da etiqueta, por parte do hospital; como no reconhecimento do corpo, de forma visual, por parte de um único familiar, dentro das prevenções de contaminação da Covid-19”, afirmou em nota o Espanhol.
A família, através do irmão de Arlete informa que o erro foi registrado na 14ª delegacia, no bairro da Barra, e possui um advogado que está acompanhando esse processo. “Está sendo muito difícil. A gente não está tendo apoio deles, do Hospital e nem de ninguém. Ninguém vem acolher a gente, ninguém vem pegar a gente. Reconhecer que o Estado já errou e a gente está aqui. eu e minha família estamos aqui desde cedo no IML esperando alguém vir socorrer a gente e nada”, desabafa Jairo.
Segundo informações do IML, não existe um prazo para conclusão do procedimento, devido ao processo precisar seguir os protocolos burocráticos. Após a exumação do corpo da segunda vítima, que está na cidade de Lauro de Freitas, o IML, em Salvador, fará a perícia com o processo de reconhecimento por parte das famílias e só assim haverá liberação dos corpos. Enquanto isso, a dor desses familiares continua.