“Artista preto talentoso não falta”: para público presença negra pode aumentar no Rock in Rio

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Depois de doze dias de festa, o Rock in Rio 2022 terminou no último domingo (11) celebrando o retorno do evento. Após ser adiado por conta da pandemia da Covid-19, essa edição foi repleta de uma grande expectativa por parte do público. Além disso, a edição deste ano também contou com um número considerável de artistas negros se apresentando nos palcos principais e paralelos, representando diferentes gêneros musicais.

Para a psicóloga e agente de saúde carioca Priscila Machado, que esteve presente em todos os dias de festival, uma das melhorias da edição deste ano para o de anos anteriores foi justamente a presença negra.

“Vi e tietei diversos famosos negros também. Tive a oportunidade de ver por lá, bem de pertinho, alguns ex-bbbs negros como Douglas Silva  e Camilla de Lucas. E ainda alguns famosos como Jonathan Azevedo, Jeniffer Nascimento. Além de presenciar o show da maravilhosa Marvvila, Ludmilla, MC Carol, Tati Quebra Barraco, MC Poze, Iza. Não me recordo se na edição de 2019 tiveram a presença de tantos pretos como está”, conta a psicóloga.

Show da Ludmilla foi um dos mais elogiados / Foto: Bárbara Souza 

Para a estudante carioca Camila Neves, de 20 anos, que foi ao evento pela primeira vez, a experiência superou suas expectativas. “Foi arrepiante. Eu não achei que fosse gostar tanto, pois acreditava que não tinha o meu perfil e que estava fora da minha realidade. Mas você chega lá e tem música para todo o tipo de gente”, conta a estudante,

Neves também notou um aumento de pessoas negras no festival, embora acredite que ainda há muito a ser feito para que essa presença seja efetiva. “Esse ano eu senti que o número de pessoas negras no Rock in Rio foi bem maior que do últimos anos, mas variava muito dos lugares. No Palco Favela eu vi mais pessoas negras assistindo, produzindo, trabalhando…e em outros palcos nem tanto”, disse a estudante.

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“Se eu disser que teve representatividade suficiente eu vou estar mentindo, pois representatividade nunca é demais. Esse ano tivemos muitas pessoas negras se apresentando, a Iza mesmo como a primeira mulher negra brasileira a se apresentar no Palco Mundo. Demos um grande passo, mas temos mais para melhorar. Artista preto talentoso não falta”.

Ainda sobre a presença de artistas negros no festival, Priscila cita o exemplo da cantora Ludmilla, seu show favorito. “A gente sabe que para o preto as oportunidades são escassas, e quando acontecem em grandes eventos, é sempre em situações de menosprezo, tanto é que a Ludmilla merecia estar no Palco Mundo. Sendo preto no mundo, as coisas funcionam diferentes”, explica a psicóloga. 

A estudante Camila Neves acredita que a edição do Rock in Rio deste ano foi histórica, por ter acontecido após os momentos difíceis da pandemia, e também considera o show da cantora Ludmilla, histórico para as pessoas negras. “O show dela foi o melhor de todos! A entrega dela, da equipe, os vídeos…foi muito arrepiante e representativo”. 

Para além da música

Apesar de não ter presenciado nenhum caso de discriminação racial, a psicóloga carioca admitiu perceber uma certa tensão nas relações entre pessoas negras e brancas em posições diferentes no festival. “Percebi sim desconforto de usuários no evento ao precisarem seguir regras de funcionários pretos que estavam controlando o acesso aos brinquedos. Tais regras eram facilmente aceitáveis sendo explicadas por brancos”. 

Questionada sobre os espaços voltados à comunidade preta e periférica no Rock in Rio, como no caso do Palco Favela, a psicóloga Priscila Machado diz que apesar de importantes, precisam de mais reconhecimento. “Notório que em publicidades, marketing, vídeos em grandes páginas, não se vê a imagem do mesmo, ou quando se vê em alguma, em pequena porcentagem, até mesmo na divulgação”.

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De maneira geral, a estudante Camila Neves elogia a estrutura do evento, e a considera muito bem planejada. Porém, destaca a questão da mobilidade um problema. “O problema foi o transporte. Acho que pode ser pensada e mudada para os próximos anos”.

 A psicóloga Priscila Machado também destacou a questão da mobilidade e o custo como uma das complicações do festival. “Soube de frustração de diversos usuários quanto a essa questão de locomoção. Colocaram outras alternativas, porém com valores inacessíveis para uma porcentagem do público”, destacou. 

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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