A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: Princípios e Diretrizes aponta que as mulheres negras morrem mais que mulheres brancas. Quando consideradas as principais causas de morte, estas são por homicídio, suicídios e mortes mal definidas. Além disso, estudos no país também mostram que a ocorrência de transtornos mentais comuns é maior em mulheres negras ou pardas.
Neste cenário, é possível entender que são muitos os obstáculos enfrentados pelas mulheres negras no Brasil. Seja pela falta de segurança, atendimento médico ou psicológico, essa é a parcela da sociedade que mais sofre e se encontra, portanto, na base da pirâmide social. E como cuidar da saúde mental das mulheres negras pode ser entendido com um desafio. “As mulheres negras não deveriam ter de lidar com isso todos dias. É dolorido, violento e violador. Cansa e pode causar adoecimento psíquico”, ressalta a psicóloga Lívia Marques.
Desde os tempos de vigência da escravidão, a figura da mulher negra esteve associada a dois elementos: o prazer sexual e o cuidado com as crianças, reforçada na figura de Tia Anastácia no imaginário popular. Mas, ao longo dos anos, é possível perceber um esforço para que essa visão seja desconstruída por meio de diferentes movimentos de mulheres negras no país, mas fatores psicológicos são presentes nessa situação.
Ainda segundo a psicóloga, “a saúde mental dessa mulher pode ser impactada pelas chamadas pequenas falhas, situações, expressões do dia a dia. Um exemplo é quando uma mulher negra ouve do parceiro que está com ela mas não pra namorar ou casar e etc. São microagressões constantes, ainda que sem a intenção de machucar, mas que na verdade perpetuam o racismo estrutural”, enfatiza Lívia.
Para a psicóloga, referenciais, autoamor, acolhimento e empoderamento são elementos vitais para a superação e cuidado da saúde mental das mulheres negras, porém o diálogo é fundamental. “Não podemos achar que tudo será resolvido num estalar de dedos. Para isso, terá que ter diálogo, conversa, amor e muitos, muitos momentos de autopreservação. E digo que o acolhimento é a melhor forma de se fortalecer e, junto dele, o autocuidado e autopreservação”, finalizou.
Enfrentamento
Quem tem procurado enfrentar essa situação é a cantora da Banda “Soul de Brasileiro”, atriz e Gestora de RH, Negra Silva. Ela conta como tem sido lidar com a autoestima e a saúde mental. “Para nós, mulheres pretas, oscila muito. Um dia amanheço bem e muito resolvida com essas questões da autoestima e sobre as questões raciais, mas tem dias que vejo que preciso amadurecer e avançar muito ainda” disse a cantora.
Há 5 meses, Negra Silva encontrou na terapia um auxílio para superar essas situações. “Estou em um processo de desconstrução pessoal, por isso resolvi buscar ajuda na terapia. Eu estava passando por um momento da minha vida onde me sentia muito sozinha, mesmo tendo vários amigos ao meu redor. Comecei a perceber que aquele vazio nunca passava e daí resolvi buscar ajuda de um profissional. Então, posso considerar que ainda estou em um processo de superação”, explicou.