“A Nike não deveria ter começado essa história”, diz diretor do Observatório Racial no Futebol

Copa-jpg.webp

Na tarde da última segunda-feira (15), a Nike emitiu nota dizendo que “a falha no sistema que permitiu a customização de algumas palavras de cunho religioso está sendo corrigida“. Porém, especialistas consultados pelo Notícia Preta são unânimes em dizer que a empresa não deveria ter entrado nas questões pessoais, como escolhas políticas ou religiosas.

A marca não permite a customização com nomes de religiões de matrizes africanas – Foto: Reprodução/CBF

Para o Diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, a Nike não precisava entrar em polêmicas. “A Nike não deveria nem ter começado essa história, deveria ter liberado para cada um escrever o que quisesse em suas camisetas”, afirma.

Além disso, Marcelo acredita que é necessário um posicionamento dos jogadores nesse caso, uma vez que é preciso ressaltar a liberdade política e religiosa. “Quando falamos de liberdade de expressão é termos nossos direitos reconhecidos para cultuar a nossa religião, as nossas entidades de matrizes africanas, nossa cultura. A posição dos jogadores sempre é válida e necessária”, completa.

Por outro lado, Marcos Luca Valentim, jornalista esportivo, diz que a cobrança tem que vir sobre quem produziu o fato e não dos jogadores. Além disso, ele lembra também que, para os jogadores se posicionarem, eles precisam de uma informação mais completa. “Nesses casos, é difícil pra eles se posicionarem por não terem um acesso à informação e não conseguem formular um pensamento a respeito disso. A maioria esmagadora são evangélicos ou católicos. Eles fazem um gol e dedicam a Deus ou Jesus e é autoexplicativo pra eles”, analisa.

Leia também: Nike proíbe nomes de Orixás na camisa da seleção, mas libera ‘Cristo’

Ele lembra também que os jogadores que não são católicos ou evangélicos e pretendem assumir essa “terceira via”, precisam ter muita certeza do que fazem, como o caso do meia atacante Paulinho, que fez um gol nas Olimpíadas de Tóquio e dedicou ao Orixá Oxossi. “Quando você tem um Paulinho, que faz um gol em uma Olímpiada e atira flechas para Oxossi, esse cara tem que saber muito bem o que está fazendo. Porque se não souber, ele vai ser muito criticado, penalizado. E todo mundo que é do mesmo credo que ele vai pagar também”, afirma.

Marcos ressalta que os erros e acertos das minorias são tratados de formas diferentes. “Se o negro acerta, é um acerto do negro. Mas se o negro erra, vem aquela frase: ‘não dá para um negro fazer esse tipo de coisa'”, completa.

Nota na íntegra

“A Nike, como descrito na própria página, não permite customizações com palavras que possam conter qualquer cunho religioso, político, racista ou mesmo palavrões. A falha no sistema que permitiu a customização de algumas palavras de cunho religioso está sendo corrigida. A marca reforça ainda que este sistema é atualizado periodicamente visando cobrir o maior número de palavras possíveis que se encaixem nesta regra”.

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

Deixe uma resposta

scroll to top