11 de abril de 2018 é a data que Aline Brito, 25 anos, criadora de conteúdo digital e Alessandra Ayabá, 31 anos, confeiteira artesanal e criadora de conteúdo digital se encontraram, trocaram o primeiro beijo e, desde então, estão juntas, criando os pequenos gêmeos Jamal Akesan e Jawari Akesan.
No Dia das Mães, o Notícia Preta conversou com Aline Brito, mãe dos gêmeos Jamal e Jawari e falou sobre a dupla maternidade, dividida com sua companheira, Alessandra Ayabá. Ela ressaltou que não é uma novidade, mas vem ganhando mais espaço entre os casais e deixou de ser tabu para vários segmentos sociais. “A dupla maternidade é um tabu só pra quem é escroto mesmo, tá ligado? Pra quem é ignorante, pra quem não tá disposto a estar aberto pro novo, que não é tão novo assim. Antes mesmo de surgir essa geração das mães em clínica de reprodução humana, dentro da quebrada já tinha várias sapatões que conheciam as mães solo e começaram a se relacionar com elas. Se conheciam, se apaixonavam e assumiam a mãe e o filho”, revela.
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Ela comenta ainda que a sociedade está mudando, as pessoas estão ficando mais abertas para essa situação. “Principalmente pra gente, que trabalha no instagram. Esse mês das mães foi muito próspero, a gente teve várias marcas que procuraram pra campanha, para fazer parcerias. As pessoas estão ficando mais conscientes dessa troca com as pessoas. Tem gente que brinca com a gente, ‘que legal ter duas mães’. Tem gente que fala ‘meu pai me abandonou e teria sido mais legal se eu tivesse tido duas mães ao invés de um pai que me abandonou’”, afirma.
Escolhas
Aline conta ainda que a escolha de engravidar foi muito fácil. Uma decisão conjunta, mas que não houve resistência por nenhuma das duas partes. “Quem engravidou foi a Alê. Vou ser bem sincera, sempre quis ser mãe, mas nunca tive aquela vontade de gerar. Sou bem frouxa pra sentir dor, pra sangue, essas coisas. Não conseguia imaginar um parto e dito e feito. Eu vi o parto dos meninos, ainda mais que foi cesárea, que é bem invasiva, aí eu tive certeza que engravidar não era uma coisa pra mim”, comenta. “A Alê sempre teve o desejo de ser mãe, de engravidar, de ter essa sensação de gerar uma criança. No nosso caso, foram duas crianças que foram geradas. Foi bem tranquila a escolha de quem iria engravidar”, completa.
Aline revela ainda que sempre teve o desejo de acompanhar uma gestação. “Isso é engraçado porque nós combinamos que as duas queriam as duas vivências da maternidade, pelos dois pontos de vista. Ela queria viver a gestação e eu queria ver uma barriga crescendo, queria acompanhar, colocar a mão na barriga e sentir meu filho chutando pra mim, sabe? Queria poder realizar os desejos da minha mulher, sei lá. Isso não aconteceu aqui, mas eu queria que ela tivesse um desejo às três da manhã: ‘quero comer um tijolo com manga’. Isso não aconteceu e tomara que na próxima gestação aconteça, vou achar bem da hora”, brinca.
Desde o início, segundo Aline, elas tiveram a vontade de formar uma família, de quanto é bonito, de quanto é forte ver duas mulheres juntas, e duas mulheres pretas. “A gente já tinha acordado, que seria mais tranquilo, em questão de relacionamento, em questão de vida mesmo. A gente já tinha definido que ia arrumar um filho, só não sabia como”, afirma.
Ela lembra que o “click” para a dupla maternidade foi quando uma colega teve uma filha e trabalhava o dia todo. pagava alguém para cuidar da criança no meio de semana e nos finais de semana, a bebê ficava com Aline e Alessandra, para a mãe não ter mais um custo com outra pessoa cuidando da criança. “Cuidar da Desarriê foi a chama, sabe? Ela foi o isqueiro que acendeu nossa chama de ser mãe, de criar uma criança, de ter um filho, e estamos aqui, hoje, com o Jamal e com o Jawari. Tinha finais de semana que ela chegava aqui em casa às 6h30, 7h da manhã. Como era muito novinha na época, menos de um ano, chegava dormindo. A gente ficava de preguiça com a bebê na cama, até mais tarde, aquela coisinha pretinha, coisa mais linda. Então, a gente via aquela bebezinha ali, entre a gente, foi quando a gente falou: ‘quando a gente vai ter o nosso?’”, revela emocionada.
Família
Uma senhora de 80 anos, lá da roça, de Minas Gerais, da Congregação Cristã do Brasil: essa foi a única resistência familiar que as duas tiveram, que é a avó da Alessandra. No entanto, com o passar do tempo, segundo Aline, D. Lourdes se tornou uma bisavó carinhosa e cuidadosa. “Ela adora paparicar os meninos, está sempre mandando um presente. Para ela já era difícil aceitar a ideia de ter uma neta sapatão, quem dirá sapatão que engravidou de outra mulher. Mas é isso, a gente sempre teve muito apoio da família”, diz. Além disso, ela lembra ainda que o pai da Alessandra sempre foi um cara “desencanado” e ficou até feliz com a ideia de ter netos. “Depois que ficou sabendo que eram dois meninos, aí que o velho pirou mesmo”, brinca.
“Hoje em dia, D. Lourdes é uma super bisavó pros meninos e isso pra gente era super importante porque, pra gente que é preta, a ancestralidade, o matriarcado é uma coisa muito importante. Pra gente conseguir essa benção, esse respeito com a matriarca da família, era tudo e a gente conseguiu essa benção da nossa mais velha”, finaliza.
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