Chegamos a tão aguardada temporada dos blocos de Carnaval e muitos foliões estão animados para se jogar na folia, mas eu estou escrevendo este artigo para falar de questão um pouco mais séria e que de certa forma, está presente no Carnaval do país todo.
No último artigo em que abordei a questão do genocídio da juventude negra, toquei em um ponto que eu gostaria de aprofundar nesta discussão e que está inteiramente ligado ao Carnaval: a cultura (elementos da cultura afro, indígena entre outras) sendo utilizada como fantasia.
Incorporar elementos de uma cultura a uma fantasia pode deslegitimar toda uma cultura que, por sua vez, pode virar alvo de deboches – como os casos de blackface de Nega Maluca – e aí entramos em um assunto muito polêmico e interligado com o que ocorre na sociedade durante as festividades de Carnaval que é a apropriação cultural. Gostaria de esclarecer alguns pontos cruciais acerca do assunto para que não haja mais enganos ao se utilizar tal conceito.
O poeta negro B. Easy uma vez disse que “a cultura negra é popular, [mas as] pessoas negras não são”, ou seja, a cultura negra é facilmente comercializada, já a inserção e aceitação do negro nos espaços sociais é outra história. Quero sua cultura, mas não a sua presença.
Retomando… o termo apropriação cultural foi conceitualizado pela antropologia e, procura definir o ato de se utilizar ou adotar hábitos, objetos ou comportamentos específicos de uma cultura, por pessoas e/ou grupos culturais diferentes (PINHEIRO, 2015, p. 1)[1].
A exemplo dessa apropriação nós temos, além da blackface, o blackfishing que é muito comum entre as influenciadoras digitais e modelos. A expressão é utilizada para referenciar a apropriação por pessoas não-negras de elementos da cultura afro.
No Brasil, só neste início de ano tivemos três casos de blackfishing: a digital influencer Bianca Andrade (Boca Rosa), primeiro se utilizando das tranças e, posteriormente, quando as desfez, postou a foto do cabelo que se parecia muito com um black; a Munik Nunes, ex-BBB, se utilizou de uma maquiagem e escreveu na legenda “bem africaninha” e por fim, Isabella Fiorentino que também cometeu o mesmo ato na rede social instagram utilizando a legenda “preta, preta, pretinha”, trecho da canção de Moraes Moreira.
Percebam que, para as pessoas que visualizaram as fotos, elas não foram muito criticadas – exceto por determinadas seguidoras que compreendem e que em determinado período da vida, de alguma forma, foram prejudicadas por conta da cor da pele, ou do cabelo.
Para fechar, gostaria de acrescentar uma pequena lista acerca do que pode ser considerado ofensivo e também uma apropriação cultural: Nega Maluca, Entidades (Orixás), Japoneses (Gueixas entre outros elementos), Muçulmanos, Indígenas e Cangaceiros. Atentem-se!
1 PINHEIRO, Lisandra Barbosa Macedo. Negritude, Apropriação Cultural e a “Crise Conceitual” das Identidades na Modernidade. In. XXVIII Simpósio Nacional de História, Lugares dos Historiadores: velhos e novos desafios, Florianópolis/SC, 2015.