Coletânea Olhares Negros é apresentada em Live com autoras

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O livro  Olhares Negros foi lançando virtualmente nesta segunda-feira (5), durante o Ciclo de Conferências do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal de Ouro Preto (Neabi/UFOP). A coletânea reúne 49 artigos de oito ativistas e intelectuais negras, publicados na coluna de mesmo nome do portal Congresso em Foco. Nele, são abordados temas como democracia e participação política, educação, literatura, entre outros, e apresenta o racismo em suas mais diversas faces.

Os textos são de autoria de Wania Sant’Anna, Helena Theodoro, Vanda Machado, Dulce Pereira, Roberta Eugênio, Kelly Tiburcio, Iara Brandão e Mariana Maiara. Com exceção de Vanda Machado, que não pôde comparecer por motivos de saúde, todas participaram da live de lançamento, mediada pelo professor e pesquisador do Neabi, Clézio Gonçalvez, com participação do jornalista e fundador do portal Congresso em Foco, Sylvio Costa.

A coletânea foi lançada em live com as autoras – Foto: Creative Commons

Durante a transmissão, a historiadora, organizadora e autora do livro Wania Santa’Anna lembrou que há um século, em 1922, seus ancestrais ocupavam em número muito baixo espaços de reflexão como a coluna. “Pouquíssimas mulheres negras tiveram a chance de fazer o que nós estamos fazendo hoje que é escrever. Nos ler, nos reler, nos encontrar nessa jornada intelectual, mas nós hoje podemos e o que a gente tem se proposto é que mais de nós tenham essa chance e essa oportunidade de elaborar sobre si e sobre as nossas comunidades”, explica. 

Sant”Anna lembra ainda que todo ativismo vivenciado atualmente vem de muito antes e ficará como legado para os próximos. “Não fazemos por nós mesmas, nós fazemos por aquelas que vieram antes de nós e muito essencialmente por aquelas, que nós sabemos, viram depois de nós”, completa.

Para Wania, as visões e abordagens de mulheres negras precisam ser levadas em conta na construção de uma sociedade que seja mais justa, singularmente humana e profundamente comprometida com o pensamento plural. “Nós sabemos o que essa sociedade pensa sobre as mulheres negras. Essa sociedade pensa que as mulheres negras não pensam. Nós devemos pensar apenas no fogão e no tanque. Não vou fazer juízo de valor sobre o tanque e sobre o fogão porque sabemos que muitas mulheres negras vivem, muito constantemente, da tarefa de lidar com o tanque e com o fogão. Mas é muito surpreendente que a gente possa fazer algo que a sociedade brasileira nos nega que é a reflexão”, comenta.

Já Rogéria Eugênio, uma das autoras e integrante da diretoria do Instituto Alziras, fez referência à primeira escritora negra brasileira, Maria Firmina, para registrar as possibilidades que surgiram com a lutas de personagens históricos negros que abriram caminho para essa geração. “Algo que é muito forte, desse livro, dessa coluna e desse movimento, é essa reunião de escritoras de gerações diferentes e formações diferentes. É mais do que uma reunião de mulheres negras para produzir reflexões teóricas, é uma expressão sobre o movimento das mulheres negras brasileiras”, afirma.  

Ela completa dizendo que “nós somos essas mulheres negras brasileiras em movimento e o que nos distancia, embora nós sejamos muito próximas em termo das agendas, da Maria Firmino dos Reis, é o fato de estarmos fazendo isso coletivamente”.

Foto: Divulgação

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Para  Dulce Maria Pereira esse é o momento da história que as intenções de tomadas de poder se digladiam e construir um espaço que dá voz ao corpo humano que representa a  maioria dessa nação é uma ousada decisão política. “Ou de fato nós vamos para um colapso ou vamos tomar atitudes de construção do novo e destruição dos podres poderes para construção dos poderes que compartilham, dos poderes que desenham com sensibilidade os aquilombamentos e é isso que nós temos a intenção de discutir, trabalhar e principalmente produzir para as mudanças estruturais de uma humanidade que se construiu racista em um país que aprimorou o racismo”, comenta.

A cientista social Mariana Maiara fotografou e realizou a curadoria fotográfica da equipe em diversos momentos e ressaltou a importância da imagem e da memória durante o desenvolvimento da coluna. “Nada para mim foi mais importante do que conceber uma memória e aí pensar na memória não só a partir das minhas fotografias, mas das fotografias de todas as mulheres  e é isso que a imagem desperta nos nossos artigos. Estou trazendo esse recorte da memória porque para nós pessoas pretas esse recorte é muito importante”, explica.

Olhares Negros tem apresentação da escritora e ativista Angela Davis e da advogada criminalista internacional Patricia Seller e pode ser baixado gratuitamente. O lançamento da obra em formato digital aconteceu em julho.

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