A professora de Yoga Marta Xavier resolveu mudar os de suas aulas depois de constatar que a maioria dos estúdios ficavam no Centro
Matéria produzida e publicada originalmente pelo Coletivo de jornalistas negros de Salvador (BA) Entre Becos, e replicado na íntegra com autorização dos autores.
Quando Marta Xavier, 37, moradora do bairro de Castelo Branco, em Salvador, decidiu praticar yoga, ela percebeu que os espaços que ofereciam aulas, de maneira geral, estavam localizados no centro da cidade. Além disso, ela também tinha dificuldade para chegar no horário das aulas, por causa dos problemas de mobilidade urbana.
Durante o período da formação em yoga, Marta teve a ideia de criar um projeto que oferecesse aulas gratuitas dessa prática milenar aos moradores dos bairros populares de Salvador. Assim, nasceu o Perifa Yoga.
“Eu vi que era o momento do yoga chegar na periferia, já que existia uma pessoa da periferia disposta a compartilhar os saberes que estavam sendo adquiridos com a sua comunidade”, conta Marta, educadora de teatro e yoga.
Com o apoio de cinco voluntários, que atuam como professores, as aulas de yoga ocorrem quinzenalmente em Cajazeiras V, aos domingos, às 9h, na praça de Cajazeiras V. “Recebemos as pessoas de Águas Claras, Fazenda Grande, Cajazeiras X. O local se tornou referência para as pessoas das mais diversas localidades”, explica Marta.
O projeto também oferece a prática de forma fixa e quinzenal no bairro de São Tomé de Paripe, aos sábados, às 16h30. “As pessoas que estão no Alto do Cabrito, Terezinha, Plataforma, bairros que compõem o Subúrbio Ferroviário, conseguem se deslocar para a praça de São Tomé de Paripe, pois é um lugar que elas frequentam”, explica a educadora.
Já no parque São de Bartolomeu, as aulas de yoga acontecem, geralmente, aos domingos, por volta das 8h30, apenas quando o Instituto Trilha das Flores realiza atividades de trilha no parque. Os dias e horário das aulas são disponibilizados no Instagram.
Os benefícios da Yoga
Os pesquisadores Patrícia Pantoja e Gustavo Chiesa, no artigo “Yoga: Um método chave para cuidar de si e do outro”, explicam os benefícios que o yoga pode causar na saúde dos praticantes.
“O estresse é melhor administrado, os distúrbios do sono são reduzidos e adquire-se uma melhora geral na saúde física e mental com reduções de ansiedade, aumento da atenção, aumento de vitalidade e um maior estado emocional de compaixão”.
Os pesquisadores também apontam para o despertar dos sentimentos de compaixão e solidariedade, que levam o indivíduo a cuidar de si e também zelar pelo bem-estar das pessoas à sua volta.
Foram esses sentimentos que fizeram a professora aposentada Jacinta Nery de Souza, 67, convencer as amigas Maria Pereira, 64, moradora de Paripe, e Marilene Goes, 68, moradora de Periperi, a acompanhá-la nas práticas do Perifa Yoga. “Todas estão aqui seguindo meus passos”, sorri Jacinta. “Sempre que ela encontra uma atividade, eu colo com ela”, diz Maria.
As amigas ganharam uma certa fama nas aulas. “Nós somos as idosas do grupo e elas colocaram nosso apelido de As relíquias”, explica Jacinta. Elas acompanham o projeto em todos os locais onde as aulas são oferecidas. “A yoga trouxe uma melhora, porque faço o exercício que vai naquele ponto em que sinto algo e de repente relaxa”, complementa a moradora de Periperi.
O relaxamento também foi umas das motivações para a funcionária pública Jamile Dias, 41. “A gente leva uma vida muito agitada. A minha busca pela yoga foi justamente para poder ter um pouquinho mais de equilíbrio, para ter esse estado de presença”.
O sucesso das aulas tem feito crescer o número de pedidos para que as ações alcancem outros bairros e espaços. “O projeto nasceu com a ideia de que a gente não cobre das pessoas que são atendidas. Para isso, tiramos dinheiro do nosso bolso, depois passamos no edital e compramos som, tapetes e tiramos ajuda de custo o deslocamento”, conta Marta.
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O projeto busca participar de editais para tentar atingir a meta de atender mais comunidades e conseguir remunerar, por exemplo, a hora aula dos professores. A educadora ainda explica que o espaço se tornou um ambiente de acolhimento e compartilhamento de conhecimentos sobre o yoga. “Somos um espaço em que acolhemos as mães e pais que precisam levar os filhos”.
A iniciativa ainda ofertou bolsas de formação em yoga para moradores de bairros periféricos. “É importante pensar na democratização da prática do yoga, porque ainda é muito elitista”, conclui Marta.
Reportagem de Rosana Silva, Fotografia de Gabrielle Guido e Edição de Cleber Arruda