Um dos artistas de rua mais influentes do cenário carioca, Pandro Nobã, foi vítima de racismo no evento ArtRio, na última quarta-feira (18). Após relatar o caso em suas redes sociais a notícia viralizou e deixou muita gente indignada. A produção do evento questionou de maneira ríspida e insistente se Pandro teria sido o responsável por escrever a palavra “negro” do lado de fora do evento.
Reconhecida como um dos principais eventos de arte da América Latina, a ArtRio reúne em um mesmo espaço, obras de grandes mestres e também o trabalho de novos artistas do Brasil e do mundo.
Em entrevista ao Notícia Preta, o graffiteiro contou que participa do evento, que vai até o próximo domingo (22), à convite de uma perfumaria. O artista é o responsável pelo graffite presente no container da perfumaria e também estiliza as bolsas dos clientes durante a nona edição da feira que acontece entre os dias 18 a 22 de setembro, na Marina da Glória.
O stand onde Pandro trabalha fica do lado de fora do evento mas, em uma das galerias um outro artista fez uma intervenção escrevendo a palavra “negro” para chamar atenção para a ausência desta população naquele espaço. Segundo Pandro, a intervenção incomodou alguns convidados e por este motivo a produção foi questioná-lo, um dos poucos negros no local, se ele teria sido o responsável.
Querem a cultura preta mas não querem os pretos por pertoPandro Nobã
“Após esta intervenção eu comecei a ver a presença de alguns seguranças ao meu redor. Como já estamos acostumados a passar por isso, infelizmente, eu me senti acuado, coagido. Após alguns minutos deles me rondando chega uma pessoa da produção com uma foto da intervenção com a palavra ‘negro”, no celular, e me questionou de uma forma que não foi legal, se não teria sido eu. Como tinham poucos negros no evento, tinham poucas opções pra eles acusarem”, conta o artista.
Com o susto e se sentindo mal com a situação Pandro conta que na hora não soube como agir: “Primeiro veio a indignação, depois decidi expor o ocorrido no Instagram e cobrar explicações, já que este é um evento que se diz plural. Mas o que a gente vê é aquela velha história, querem a cultura preta mas não querem os pretos por perto”.
A perfumaria responsável pela contratação de Pandro, ao saber do fato, foi com o artista até a pordução do evento para cobrar explicações: “O pedido de desculpa não foi satisfatório por quê eles continuam achando que o fato não era importante. Eu quero uma retratação e que o diálogo fosse aberto com as pessoas pretas que movimentam a arte de rua e a arte como um todo.Se precisamos de representatividade precisamos de pessoas pretas”.
O Notícia Preta procurou o ArtRio mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta. O artista Pandro Nobã ainda aguarda um posicionamento formal e oficial da produção do evento.