900 mil brasileiros com mais de 40 anos buscam por alfabetização

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900 mil adultos e idosos brasileiros com mais de 40 anos estão matriculados em escolas do Brasil. Eles enfrentam diversas dificuldades para continuar o aprendizado, como por exemplo, a falta de autonomia por não serem alfabetizados, são alvo de intolerância por tentarem ler e escrever, e ao conciliar o emprego com as aulas noturnas.

A partir dos dados do Censo escolar 2022, 900 mil estão na escola e outros 600 mil, de acordo com o Censo de Educação Superior de 2021, são alunos no ensino superior. O número de alunos da Educação Para Jovens e Adultos (EJA), vem aumentando nos últimos anos: saltou de 728.429, em 2012, para 900.222, em 2022, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

900 mil brasileiros com mais de 40 anos estão estudando – Foto: Nappy.co

O levantamento revela ainda que motivos para esse aumento são a busca por maior independência; conscientização de que precisam ocupar outros espaços além do de dona de casa ou de trabalhador explorado; sonho com progressão de carreira; ganho de autoestima; liberdade de buscar a própria formação depois de ter cumprido a “missão” de educar os próprios filhos.

Flávia da Silva, especialista em língua portuguesa e professora da rede pública de Goiás, incluindo a EJA, explica os motivos principais de evasão escolar. “Os motivos são: histórias de extrema pobreza; violência doméstica; gravidez e casamento; baixa autoestima gerada por problemas de aprendizagem não trabalhados ou identificados; bullying na escola; necessidade de trabalhar em período integral; maridos que proibiam as esposas de irem ao colégio; reprovações”, afirma em entrevista ao G1..

Já Sonia Couto, coordenadora do Instituto Paulo Freire, fala sobre o preconceito que os alunos têm consigo mesmo ou vindo de família e dos amigos. “A primeira barreira a ser rompida pelos alunos da EJA é com eles mesmos. Existe uma autocensura que faz com que eles se questionem: ‘será que ainda adianta estudar nessa idade?” diz ela.

E complementa. “Há mulheres que são privadas de seus direitos por maridos que não admitem chegar em casa e não encontrar a esposa servindo o jantar, ‘só’ porque ela está na escola à noite”, afirma. “E existem casos de filhos que ficam envergonhados de ter pais na EJA”.

“Isso sempre vai acompanhar quem não está no padrão. Tenho uma aluna [na EJA] que tem mais de 70 anos. As mais novas perguntam para ela o que ela espera do futuro nessa idade. Percebe-se um tom jocoso [de “zombaria”] nas falas”, conta Flávia.

Para Sonia, do Instituto Paulo Freire, adultos que buscam os estudos “são pessoas que querem completar um vazio”. Segundo os dados mais recentes, de 2019, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Pnad, 35 milhões de brasileiros acima de 40 anos são analfabetos.

Com relação as mulheres que retornam para a escola, “o estudo, para elas, é mais do que a aprendizagem da leitura e da escrita. É uma mudança, uma possibilidade de esperança, de liberdade para transitar por uma cultura letrada”, conclui.

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Marina Lopes

Marina Lopes

Marina Lopes é jornalista e escritora juiz-forana, apaixonada pela palavra e por contar histórias através dela.

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