Por Priscila Duarte de Lira*
Sou Priscila Duarte, 29 anos, e posso dizer que sou uma entre as e os estudantes que podem afirmar que são os primeiros da família a adentrar na universidade. Isso é fruto da política de ações afirmativas, da ampliação das universidades e das vagas no ensino superior reivindicadas pelo movimento estudantil e social implementadas no governo do presidente Lula e da presidente Dilma.
Sou de uma família com poucos recursos, mas que sabia a importância de estudar pela perspectiva de futuro. Sempre fui estimulada a estudar, principalmente pelo meu pai e minha avó materna, Dona Francisca era analfabeta e tinha como sonho que todos os filhos e netos estudassem. Então, sempre me dediquei a escola e ainda na adolescência conheci o movimento estudantil.
Fui presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Manaus (UMES-Manaus), e foi quando percebi que era necessário, além do esforço individual, uma organização coletiva para superar a condição de desigualdade do nosso país. Lembro como se fosse hoje das palavras de ordem que cantávamos nos atos de rua: oh oh oh, o filho do pedreiro vai poder virar doutor!
E hoje, a filha do agora professor de filosofia, porque meu pai também pode estudar, vai virar doutora em Ensino de Química pela Universidade Federal do Amazonas. Mas ainda há muitos desafios nesse caminho para serem superados que demandam melhorias nas políticas de ações afirmativas, em especial a lei 12.711/2012 (Lei de cotas).
Atualmente a lei prevê a reserva de vagas para estudantes negros, indígenas, quilombolas, deficientes de baixa renda e de escola publica nos cursos de graduação, mas ainda não incluem a reserva de vagas na pós-graduação, tendo apenas a portaria normativa nº13 de 11 de maio de 2016 que demanda das universidades proposta de inclusão de de negros (pretos e pardos), indígenas e pessoas com deficiência nos programas de pós-graduação.
A inclusão da pós-graduação na Lei de cotas é essencial para democratização do acesso a pesquisa. Mas não é só apenas ela, pois é preciso pensar em ações afirmativas também de permanência na pós-graduação.
Por isso é imperativo lutar pela inclusão da reserva de vagas na pós-graduação e que esta venha acompanhada de uma política de assistência estudantil aos estudantes cotistas. Hoje na pós-graduação o único auxílio que os estudantes (nem todos, diga-se de passagem) recebem é a bolsa de pesquisa que está sem reajuste há mais de 09 anos.
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Atualmente continuo no movimento estudantil, agora na pós-graduação. Sou dirigente da Associação Nacional de Pós-Graduandos, ANPG. As lutas pelo reajuste no valor da bolsa e pela aprovação das cotas são os principais pilares para o próximo ano.
E você pode fazer parte também desta luta em sua Universidade! Nós estamos lançando a campanha pelo reajuste de bolsas de pós-graduação e com um abaixo-assinado, clicando aqui.
Vamos juntos recompor o valor e lutar pelo acesso e permanência de negros e negras na pesquisa brasileira!
Priscila Duarte de Lira é Amazonense, Licenciada em Química, Mestra em Química e doutoranda em Ensino de Química pela UFAM. Diretora de Ciência, Tecnologia e Inovação da ANPG, Dir. da União da Juventude Socialista e membro da UNEGRO