Dri Maria, 20 anos, blogueira trans, influenciadora digital: na data que é celebrada o Dia do Orgulho LGBTQIA+, ela lembra que é necessário mais atenção à causa durante todo o ano e não somente em datas comemorativas.
Dri Maria, passou pelo processo de transição de gênero, e defende a data, porém pede mais atenção essa causa todos os dias do ano. “Precisamos ter consciência de que os LGBTQIA+ são massacrados diariamente, com discriminação e preconceito e quando as datas comemorativas se aproximam vão atrás da gente para publicidades e palestras. No restante do ano estamos esquecidos e isso que precisamos combater”, analisa.
Ela lembra também que as políticas públicas podem fomentar mais espaços nas universidades e mercado de trabalho. “Infelizmente, somente 4% de nós está empregada em um trabalho formal e 0,2 % cursam uma faculdade pública. Esses dados são muito baixos e não podemos abaixar a cabeça para isso”, afirma.
Apoio da família
A influenciadora registrou seu processo de transição de gênero e defende que o apoio da família e dos amigos é fundamental neste momento. “Eu sou uma pessoa que teve seus direitos assegurados, meus pais me deram o apoio que eu necessitava no momento de transição, eu consegui entrar em uma faculdade pública, tenho acesso à saúde, com acompanhamento psicológico e médico, o que é muito importante em um momento de hormonização. A gente sabe que isso não acontece com quase ninguém, então a conscientização das pessoas é muito importante para que isso mude”, conta.
Preconceito X políticas públicas
Em maio deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) publicou a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) que registrou 2,9 milhões de homossexuais e bissexuais no Brasil. Porém, o IBGE lembra que este resultado não é o esperado, uma vez que esses dados podem sofrer interferências sociais. “A gente não está afirmando que existem 2,9 milhões de homossexuais ou bissexuais no Brasil. A gente está afirmando que 2,9 milhões de homossexuais e bissexuais se sentiram confortáveis para se autoidentificar ao IBGE como tal”, afirma a analista do Órgão, Nayara Gomes, em entrevista coletiva.
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O Órgão também ressalta que a falta de familiaridade com os termos usados na pesquisa pode ter gerado uma subnotificação dos dados. “Para conseguir fazer uma pesquisa em que não haja subnotificação e em que a gente consiga entender quem são, como são e como vivem todas as pessoas LGBTI+, teríamos que fazer isso em uma sociedade livre de LGBTIfobia, que não é a nossa. Acredito que não será a nossa geração, em que pesem todos os esforços e lutas sociais para que isso possa diminuir”, afirma Pedro Paulo Bicalho, professor do Instituto de Psicologia da UFRJ e representante do Conselho Regional de Psicologia no Conselho Estadual dos Direitos da População LGBT.
Foi a primeira vez que o Instituto incluiu questões referentes a gênero na PNS, uma reivindicação histórica da comunidade. A produção de dados oficias sobre os hábitos, costumes e necessidades das pessoas que formam este grupo é primordial para o fomento de políticas públicas para atendê-los, em suas demandas. “Mesmo entre as pessoas que se reconhecem LGBTI+, passa por uma relação de confiança falar sobre isso, então, um tipo de pesquisa como essa precisa ser muito bem preparada. Esse Estado que chega à casa das pessoas e pergunta quem elas são precisa fazer isso de forma que essa pessoa confie e entenda para que está dando a informação”, afirma Bicalho.
“Passa também por uma relação de confiança que não é só entre entrevistador e entrevistado, mas também em relação ao país em que se vive. Se o LGBTI+ não consegue entender que esse país tem vontade política de produzir políticas públicas sobre nós, será muito complicado”, acrescenta o pesquisador.
Acolhimento
Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) ressalta que o acolhimento é extremamente necessário no momento da abordagem dessas pessoas. Seria preciso um treinamento aos recenseadores para as questões de gênero e sexualidade. “O próprio IBGE pode procurar consultores e consultorias de pessoas que trabalham com o assunto, têm essa experiência e que vão ajudar a achar o melhor caminho para fazer essas perguntas“, avalia. “Um elemento importante é fazer formação, contratar pessoas com traquejo nesse universo e que possam tratar com humanidade os que vão responder à pesquisa”, sugere.
Keila lamenta que a PNS deixou as pessoas transsexuais de fora da pesquisa e lembra que a Antra faz seu próprio levantamento, mas com recursos escassos. “O que a Antra faz é mexer em uma temática que, se a gente não jogar luz, ela não vai existir”, afirma Keila
Sem ser utópico, mas ainda acalanto a esperança de ver a humanidade e a nossa sociedade brasileira tratando cada indivíduo, independente da opção sexual, com respeito.