A comunidade Potências Negras ® e a Shopper Experience realizaram um estudo recente, com dados que reforçam as disparidades existentes no ambiente corporativo e também em outros espaços sociais para mulheres negras. A pesquisa entrevistou 812 mulheres negras com idade acima de 18 anos e das mais variadas classes sociais. Quando questionadas sobre racismo no mercado de trabalho, 62% delas disseram ter sofrido discriminação durante processo seletivo (pelo menos uma vez).
Durante a pandemia, 68% das entrevistadas que compõem o grupo denominado classe C precisou de algum auxílio (governo/família). Na classe D/E, esse número sobe para 87%. Além disso, cerca de 50% perdeu ou mudou de trabalho nesse período.
Ao mesmo tempo, mais da metade das mulheres (57%) são as principais responsáveis pela renda da casa. Sete em cada 10 mulheres da classe D/E declaram que têm pessoas desempregadas na família.
Sônia Lesse, diretora de experiências na Profissas, empresa cocriadora do projeto Potências Negras, explica que o levantamento Potências Negras Mulheres é mais uma constatação de que a desigualdade racial e de gênero estão presentes em todos os âmbitos da sociedade.
“Sabemos que a luta pela equidade não é de hoje e está longe de acabar. Para isso, é preciso analisar a sub-representação de raça e gênero no trabalho, pois abre um leque para outras discussões, como o aumento da violência sexual e a doméstica. Trabalhar a questão da renda das mulheres negras é lidar com as vulnerabilidades e com as violências que elas sofrem, nos contextos familiar, social e institucional. Nesse sentido, é necessário unir esforços da sociedade para discutir esses problemas e traçar estratégias em médio e longo prazo, com medidas que vão resolver, de fato, o abismo da desigualdade de gênero, principalmente entre as mulheres negras”.
Sobre o futuro do mercado de trabalho, Ana Minuto, CEO da Minuto Consultoria Empresarial & Carreira, LinkedIn Top Voice & Creator e cocriadora de Potências Negras, comenta que até 2024 surgirão mais de 500 mil vagas só na área de tecnologia, e o Brasil só forma 42 mil pessoas por ano nesta área, majoritariamente, pertencentes a um mesmo grupo em situação de privilégio.
“Não podemos ignorar o fato que estas pessoas formadas, seguem um modelo comum: são homem, branco, cis, de classe média e que não conhecem os desafios que uma mulher ou homem pretos, que os grupos sub-representados, conhecem e passam constantemente. Então, quando pensamos que essas empresas talvez não existam porque não há mão de obra, teremos que olhar para as mulheres e homens pretos e para os grupos sub-representados. Quando pensarmos em sustentabilidade nas empresas, elas terão que reavaliar o processo de recrutamento e seleção utilizados e essa mudança é importante para que a população negra esteja inserida neste processo, se desenvolvendo e trazendo novas possibilidades. A população negra é o caminho para um mundo mais equânime, mais próspero e abundante”, finaliza Ana.
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Outros estudos
A pesquisa de 2020 “Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho”, da consultoria Indique Uma Preta e a empresa de pesquisa Box1824, é um importante levantamento realizado no Brasil sobre o tema de inclusão racial e de gênero no mundo corporativo.
De acordo com o estudo, “apesar de representarem a maior força de trabalho no país, a população negra segue sub-representada no mundo corporativo”.
As mulheres negras são 28% da população brasileira. Juntos, homens e mulheres negras representam 54,9% da força de trabalho do Brasil e 57,7 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE.
Entretanto, representam também grande parte entre os profissionais desocupados e subutilizados.
Mesmo nas companhias que possuem ações afirmativas de inclusão racial, o topo da hierarquia ainda é branca e grande parte dos cargos para pessoas negras são para assistentes ou analistas juniores.
Outro dado importante deste estudo, revela que 72% das mulheres negras não foram lideradas por outras mulheres negras nos últimos cinco anos de trabalho.
De todas as mulheres entrevistadas, nenhuma é CEO. Além disso, somente 3% delas são gerentes e 2% ocupam posição de diretora.
Sobre Potências Negras ®
Potências Negras é o movimento para enegrecer o mercado de trabalho, impulsionando pessoas pretas e pardas e educando a sociedade para combater o racismo. A comunidade cocriada por Minuto Consultoria e Profissas, a Escola da Diversidade, já soma mais de 50 mil Potências.
A iniciativa, que hoje é uma das principais com esse foco no país, começou em março de 2021 com o maior evento feito exclusivamente para pessoas negras no Brasil, o Potências Negras Summit, e segue com outros grandes eventos, conteúdos semanais e experiências constantes, criadas especialmente por e para gente negra.
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