A produtra audiovisual Sankara criada em novembro do ano passado tem esse nome em homenagem a Thomas Sankara, ex-presidente de Burkina Faso, que foi assassinado em 1987 quando tinha 37 anos. O líder negro, que era conhecido como ”Che Guevara Africano”, foi morto porque era visto como uma ameaça para outros países.
Neste ano, surgiu o Projeto Sankara, que tem a ideia de unir a música rap com clipes e histórias que conversem entre si. Para entender melhor como funciona o projeto, o Portal Notícia Preta conversou com o seu idealizador, Brenno Felix dos Santos. Confira!
Notícia Preta: Nos conte sobre sua trajetória. Como foi que entrou no caminho da música?
Brenno Felix da Silva : Eu sempre fui fã de rap, foi o estilo musical que me salvou. Eu moro desde os 6 anos em uma favela do Rio de Janeiro, estudei a vida toda em escola pública… Você é alheio a coisas que te moldam, você escolhendo ou não. A arte, a cultura, as vezes é o que te salva da prisão, da morte prematura. Comigo foi o que aconteceu. Além de toda base familiar que tive, foi o rap que me salvou, que me fez ter foco, me fez estudar, ingressar na faculdade, me formar, ir a lugares inimagináveis que eu achava na infância. Com a idade que eu passei e fui estagiar na ONU, meu irmão estava sendo preso.
Nem todo mundo tem a mesma sorte que eu tive (falando somente da favela em si), e eu uso isso, tudo o que eu vi, e aprendi, com o rap e com vivência, onde eu estou e onde eu posso chegar. Eu tenho o dever de retribuir hoje com meu rap, com o audiovisual, de mostrar que preto favelado sabe fazer, que pessoas como eu também acreditam em si mesmas, que a gente merece o nosso lugar, mesmo sofrendo todo o descaso de governantes, grandes empresários que nos exploram. O rap me ensinou a lutar contra isso, ele salvou a minha vida!
Preto puro recém saído
Café preto recém coado
Sem celular, sentindo nu
Vestido branco recém criado
[…]
EP Visual Panóptico – 1. Intro
Eu escrevo raps há nove anos (desde os 14), mas sempre guardei e esperei o momento que achasse mais adequado para poder lançar as músicas e com a qualidade que eu achasse necessária. Quando abri minha produtora audiovisual com meu sócio Daniel Saddy, resolvemos investir nisso, em videoclipes que pudessem melhor elucidar e contar a história da música, as duas sempre andando juntas e se complementando.
NP: Por que o nome do projeto se chamar Sankara?
Brenno : A Sankara é uma homenagem a Thomas Sankara, líder revolucionário e ex-presidente de Burkina Faso – morto 3 anos após se tornar presidente. Quando conheci a história dele eu me apeguei muito, ao mesmo tempo que ficava triste em saber que um homem que fez tanta coisa em pouco tempo que esteve no comando do país – um dos mais pobres do mundo – e foi assassinado não é tão conhecido, mesmo sua história sendo recente e notória. A Sankara então, com o conceito que criamos e com o que desejamos passar, achávamos que nada melhor seria dar esse nome imponente, de um líder preto que lutou pela emancipação do seu povo.
De acordo com o Geledés, “Burkina Faso é um país sem acesso ao mar que tem como fronteiras seis países; Mali, Níger, Benin, Togo, Gana e Costa de Marfim. Em 1983, o ano em que Thomas Sankara, por meio de um golpe de estado se tornou presidente, o país era um dos mais pobres do mundo e tinha parado o seu desenvolvimento desde a sua independência em 1960. Thomas Sankara de 33 anos que era um jovem idealista, impaciente, com ideias muito progressistas e uma veia marxista, decidiu rebatizar o seu pais (que se chamava Alto Volta) de Burkina Faso – Terra dos Homens Íntegros. Thomas é ainda hoje conhecido pela juventude local como o ‘Che Africano’. As suas ideias tiveram repercussão por todo o continente, o que assustou vários líderes de outros países. Em especifico da França e da Costa do Marfim. A Costa do Marfim utilizava mão de obra barata de Burkina, e a França retirava grande parte da riqueza da Costa do Marfim (e de outras de suas ex-colônias) por meio de contratos que mantinham o espirito neocolonialista”.
Whitewashing, mas sem pó de arroz
Como vocês, Griffith e Iggy
Quem é Curly, Moe e Larry?
Querem mais White Mary
Como o Jazz: vocês são Elvis
Vocês são Elvis
[…]
EP Visual Panóptico – 2. Sete Salabim
NP: E sobre os três episódios do EP Visual Panóptico?
Brenno: O EP visual Panóptico entra no nosso conceito de músicas com vídeos, um complementando o outro. A ideia foi mostrar uma sociedade distópica, onde todos sabem que estão sendo vigiados, mas ninguém sabe quem é, como 1984 de George Orwell e o panóptico da sociologia. Foi dividido em três episódios, onde primeiro a gente mostra a sociedade, no segundo o Estado caracterizado por uma pessoa, e no terceiro as pessoas que se rebelam a esse modo preso de vida, as pessoas que resolveram viver conforme querem, indo às últimas consequências se necessário.
Além disso, eu gostaria de registrar que a Sankara (produtora) e o Projeto Sankara (audiovisual de rap) é toda uma equipe, e só é possível por esse motivo. Além do meu sócio Daniel, fazem parte: Isadora Frucchi, produtora e diretora de arte; Otto Siqueira, operador de som e Sérgio Arena, que nos ajuda de toda forma possível e por quem sou muito grato. Agradecemos também a Leonardo Flores, Ian de Farias, Edigle Kimera e Alays Affonso por todo o apoio sempre que possível. Além dos meus pais e da minha namorada, que me apoiam a continuar fazendo o que acredito.
As produções audiovisuais do Projeto Sankara estão disponíveis no YouTube. Além disso, é possível acompanhar mais detalhes dos projetos futuros na página oficial do Instagram: @projetosankara. Para mais informações, há também os contatos: brenno@sankara.art.br / daniel@sankara.art.br.
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