Extensão Universitária e a questão racial: quais as contribuições para uma sociedade antirracista?

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Por Jancleide Góes*

Ser estudante universitário não é tão somente atravessar cinco ou seis anos de graduação, cumprir disciplinas e chegar ao desejado e sonhado diploma. Ser universitário é experimentar, de forma estruturada, a construção de conhecimentos que aprimoram habilidades e constituem competências. Por isso, pertencer a instituições que compreendem a importância do Ensino, da Pesquisa e da Extensão é fundamental para transgredir os limites do senso comum e produzir um senso de responsabilidade social, cultural, técnico, entre outros. Indiscutivelmente, boas práticas extensionistas são aquelas reconhecidas por seu engajamento com a sociedade. A Extensão Universitária é a ação das Instituições de Ensino Superior junto à comunidade, a partir da articulação do conhecimento científico advindo do ensino e da pesquisa e atrelado às necessidades sociais para promover transformação social responsável. Com isso, de que forma a Extensão Universitária pode contribuir para uma sociedade antirracista?

Foto: Getty Images

Partindo brevemente do percurso histórico da Extensão, é importante situar seu surgimento na Inglaterra do século XIX como proposta de educação continuada – lifelong learning – para a comunidade adulta, tanto estudantes como pessoas que desejassem continuar seus estudos. No Brasil, a Extensão é registrada em algumas poucas práticas desde 1931 segundo a FORPROEX (2007) – Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras. Caminhar por essa história é constatar que cada vez mais a Extensão passou a ser reconhecida e a ter reafirmada a sua importância. Atualmente, a partir do princípio da indissociabilidade “Ensino-Pesquisa-Extensão”, a resolução MEC nº 7, de 18 de dezembro de 2018, concretizou a curricularidade da Extensão ao resguardar 10% do total de carga horária de toda e qualquer graduação para atividades extensionistas.

Assim, sendo a Extensão Universitária uma das funções sociais das Instituições de Ensino Superior e diretamente ligada à comunidade, caberia mais uma pergunta: Como a Extensão Universitária poderia contribuir para diminuição do racismo em uma sociedade amplamente autodeclarada negra? Apostaria em uma resposta simples: sendo um país estruturalmente racista. Mas sendo professora, trago outra pergunta: como potencializar a aprendizagem dos nossos discentes universitários com o cuidado às demandas reais da sociedade tal como ela se constitui?

A Extensão Universitária deve atender às demandas sociais que estão gritando fora dos “muros” ou das “telas” de aulas presenciais e online. Tais demandas sempre fizeram parte de uma sociedade negra, indígena, LGBTQIA+, PCD, feminina entre outros. Recordo-me, em Salvador, durante minha graduação, de participar de atividades em bairros periféricos e quilombolas para ofertar cursos de formação pré-vestibular, e os resultados vieram em forma de aprovação de jovens que já “viviam” a universidade com nossa presença nas comunidades.

Alguns anos depois, agora como docente e em plena pandemia, as atividades extensionistas chegam por diversos meios: desde a execução de um projeto virtual que precisa ter como público-alvo jovens da escola pública de todo Brasil, – afetados com a falta de aula durante um longo período das quarentenas -, assim como, ações em comunidades quilombolas que receberam atividades educativas, de beleza e arte em parceria com unidades básicas de saúde no interior da Bahia. Tais projetos são antirracistas. É importante termos, cada vez mais, extensões transdisciplinares e, se me permitem a ousadia, “transcurriculares” para chegar a pessoas, a temas e a urgências de grupos minoritários.

Propostas extensionistas que dialoguem com a Engenharia e Fisioterapia para desenvolver soluções de saneamento básico e saúde da família ou de facilitação à locomoção em comunidades periféricas são um projeto antirracista, como um realizado nacionalmente recentemente em parceria com dois colegiados. Ter um olhar inovador na Extensão é fundamental para ser sensível aos problemas e correlacionar as expertises acadêmicas. Assim, é possível afirmar que uma Extensão Universitária transdisciplinar, orientada pela diminuição de desigualdades e resolução de problemas sociais, é uma potente ferramenta ético-pedagógica para promoção das equidades, sobretudo a racial, nossa maior crise humanitária brasileira, e para a formação de profissionais do futuro que sejam racialmente conscientes.

*Jancleide Góes, Coordenadora de Projetos de Extensão e Pesquisa em Diversidade e Inclusão da Ânima Educação

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