Depois de uma grande pressão popular para uma educação antirracista e após o assassinato de George Floyd e Beto Freitas, algumas escolas particulares de São Paulo promoveram mudanças em seus quadros, promovendo a inclusão de pessoas negras nas escolas consideradas elitizadas, e se comprometeram a repassar o conteúdo nas aulas de História.
De acordo com informação do Projeto Travessia, as escolas começaram a dar preferência para contratação de professores negros e, junto com a associação de pais, abriram bolsas para alunos negros e indígenas, para que possam estudar com mensalidade, material, transporte e passeios pagos pela própria escola.
Contratada este ano como professora assistente, Mirian Ferreira dos Santos, conta como foi a sua percepção a reação de uma aluna negra, na sala em que foi substituir uma professora. “Eu vi a diferença no olhar dela, o sorriso, ela me viu como uma profissional que estava em um lugar de reconhecimento e se parecia com ela”, comenta em entrevista ao Estadão.
Cássio França, cientista político e pai de duas meninas em um dos colégios, comenta que o escola já é outra após essas mudanças. Ele diz que a leitura de férias das crianças hoje inclui livros de Carolina Maria de Jesus. Para Cássio, o fim da pandemia deve alavancar mais o projeto.
Para participar do processo seletivo e ter direito a bolsa de estudos, o aluno deve morar a 12 km da escola, ser preto/pardo ou indígena e ter renda familiar de um salário mínimo e meio por pessoa.
Até 3 de setembro, o Projeto Travessias em parceria com a Escola Vera Cruz está com processo seletivo aberto para 18 vagas para alunos com 5 anos completos para ingressar na escola em 2022.
O Estadão ouviu alguns professores e diretores de escolas elitizadas que tem projetos voltados para a inclusão de pessoas negras e indígenas nas escolas particulares, projetos que tiveram início em 2020 em colégios como Santa Cruz, Vera Cruz, Oswald de Andrade, Escola da Vila, Gracinha, Equipe. Os entrevistados acreditam que não é um caminho fácil a ser percorrido, pois esbarram na deficiência da própria formação, baseada em currículos eurocêntricos e brancos.