Nesta quinta-feira (20), Dia da Consciência Negra, o médico e apresentador Fred Nicácio trouxe reflexões contundentes sobre o racismo na formação médica durante entrevista ao programa Sem Censura, apresentado por Cissa Guimarães. Ao revisitar sua trajetória acadêmica, ele destacou que, em mais de uma década de estudos, jamais encontrou representações de corpos negros nos materiais de referência utilizados em sala de aula.
Durante a conversa, o médico chamou atenção para o caráter excludente da área da saúde. “A medicina é branca, elitista, racista e classista. Ela não foi pensada para corpos como o meu”, declarou, reforçando como essa estrutura afeta pacientes e profissionais negros.
“Antes de fazer medicina, eu fiz quatro anos de fisioterapia, me formei e me especializei em terapia intensiva. Depois, vieram mais oito anos de medicina. Nestes 12 anos estudando, passei por diversos livros de anatomia e nunca peguei um livro de medicina que tivesse um corpo preto desenhado”, afirmou.
Fred também ressaltou a ausência de representatividade até mesmo nas ilustrações clínicas. “Até as doenças de pele eram vermelhas, porque eram ilustradas em corpos brancos. Mas, no anatômico, todos os corpos cortados eram pretos. Todos os corpos que estudei, doados como indigentes para os laboratórios, para as faculdades, a maioria veio de pessoas negras”, disse.
Ele relembrou ainda um atendimento que o marcou profundamente, quando recebeu um menino de nove anos acompanhado da avó. “Chegou a vez da consulta do menino, uma consulta de pediatria. O atendi com a avó. Puxei a fichinha na tabela e atendi também a Dona Elisa. Durante a consulta, ela foi ficando emocionada e no final me pediu para tirar uma foto e disse: ‘Nunca vi um médico negro na minha vida, um médico da nossa cor’”, contou.
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